Jornal Estado de Minas

Governo tem dificuldade em traçar "diagnóstico preciso" de protestos violentos

Ministro Gilberto Carvalho admitiu que falta ao governo um "diagnóstico preciso" sobre a atuação dos mascarados durante os protestos

Daniela Garcia André Shalders
Diante de novos ataques dos black blocs em São Paulo, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, admitiu nessa terça-feira que falta ao governo um “diagnóstico preciso” sobre a atuação dos mascarados. Segundo ele, a gestão de Dilma Rousseff está com dificuldades de compreender as manifestações, devido à ausência de interlocutores do movimento. “Um dos problemas é essa dificuldade de ter interlocutores que possam e que queiram, inclusive, dialogar. Até o momento, a linguagem aparente é muito da destruição, da negação”, afirmou.

Carvalho defende o entendimento do “fenômeno social”, antes de o governo investir em ações de repressão. “Nos falta, até agora, esse diagnóstico mais preciso. A polícia faz o combate à destruição e tem de fazer, evidentemente. Mas eu quero insistir que, para resolver o problema na profundidade, nós temos de conhecer um pouco mais, entender de onde vem esse processo”, argumentou. Ele afirmou que o governo pretende tomar medidas diante de um diálogo com representantes da prática dos black blocs. “Tem havido essa dificuldade, porque é um grupo que não se apresenta para o diálogo, não se identifica. A nós causa um grande espanto. Veja a dificuldade: em junho, nós tínhamos dificuldade de entender as manifestações. E aí nós conseguimos um diálogo. Agora, um outro momento, que é essa questão dos black blocs. Nós vamos ter de chegar a isso.”


De acordo com o ministro, o governo está “preocupadíssimo” desde que as manifestações, que se iniciaram em junho, começaram a contar com a participação de grupos que defendem a violência como forma de protesto. “Não basta criminalizar essa juventude. Precisamos entender até que ponto a cultura de violência já vivida na periferia já emigrou para esse tipo de ação”, afirmou.


Carvalho disse também que a sociedade está refém do movimento e, por isso, se afastou das ruas com medo da violência dos black blocs. Para o ministro, o esvaziamento das ruas e ação de grupos extremistas acende o sinal de alerta para a atuação do governo. “O Estado não pode permitir a violência. O que nós queremos é impedir a violência e, ao mesmo tempo, ir à raiz do problema para entender essa questão e tomar medidas que resolvam”, alegou.

Toque de recolher

- Foto: Evelson de Freitas/Estadão Conteúdo

Depois dos atos de violência e vandalismo, o medo tomou conta da população na Zona Norte da capital paulista. Durante toda a tarde, as ruas ficaram desertas. Linhas de ônibus mudaram o itinerário para evitar a região e o comércio fechou as portas mais cedo, após ordens de toque de recolher. O assassinato de um jovem por um policial militar ontem de manhã, na periferia de São Paulo, também gerou revolta e protesto. No Bairro Parque Novo Mundo, a população incendiou um caminhão e bloqueou durante parte do dia a Avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira. O grupo de cerca de 150 pessoas tentou parar a Marginal Tietê, mas sem sucesso. Segundo a Polícia Militar, um soldado se perdeu no bairro e sofreu a abordagem de criminosos, que anunciaram um assalto. O policial atirou ao revidar a um disparo e matou o adolescente.