Jornal Estado de Minas

Ex-cabo da Aeronáutica conta que viu tortura que Stuart Angel sofreu

Testemunha que serviu na Base Aérea do Galeão presenciou maus-tratos contra o ativista, que morreu devido à violência em 1971

Edson Luiz
Um ex-cabo da Aeronáutica contou que Stuart Angel, militante esquerdista no período da ditadura, ficou preso na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. O rapaz, filho da estilista Zuzu Angel, teria sido espancado e arrastado com a boca amarrada ao cano de descarga de um carro. Ele morreu em 14 de junho de 1971, aos 25 anos, em consequência dos maus-tratos. Os fatos foram narrados ontem pelo advogado José Bezerra da Silva, que serviu no local entre 1971 e 1979, e que também foi vítima de agressões por parte dos colegas de farda, depois de ter reclamado da violência praticada contra o militante. Além dele, um soldado prestou depoimento ontem, afirmando que foi excluído da Força por admirar o ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul Leonel Brizola.
Segundo Bezerra, ele conheceu Stuart — que integrou o MR-8 — na enfermaria da guarnição, onde o militante chegou com hematomas no rosto. “Eu cometi a infelicidade de dizer a um cabo que aquilo era covardia”, conta o advogado, referindo-se à violência contra Stuart. Devido ao comentário, Bezerra sofreu agressões no tórax, cometidas por um oficial, um cabo e um soldado. Bezerra foi internado com uma hemorragia, o que o fez passar por uma cirurgia. Mesmo assim, sofreu outra sessão de tortura. Além disso, segundo ele, o tenente que o comandava fazia com que se submetesse a vários esforços. “Sentia o sangue descendo pela perna e não podia tomar uma atitude, já que era meu próprio chefe que me torturava”, relatou o ex-militar na Comissão da Verdade.