Jornal Estado de Minas

Base se prepara para vingança contra o governo federal

Insatisfeitos com a proposta de plebiscito, parlamentares aliados ao Palácio do Planalto estão dispostos a derrubar vetos ou projetos de interesse do governo Dilma no Congresso

Paulo Silva Pinto
Manifestação em defesa da PEC 300, que equipara os salários de todos os policiais do país aos do DF: parlamentares dão sinais de aprovação - Foto: marcelo ferreira/cb/d.a press - 2/3/10
Parlamentares de partidos da base do governo – sobretudo do PMDB – na Câmara dos Deputados e no Senado resolveram dar o troco depois da decisão da presidente da República, Dilma Rousseff, de propor a realização de um plebiscito para a reforma política. Não é apenas uma sensação de mal-estar. Eles estão dispostos a patrocinar um revide, que terá sua ignição hoje ao meio-dia: em sessão do Congresso, no plenário da Câmara, serão lidos vetos presidenciais a alguns itens de projetos que, sancionados, se transformaram em lei. O Parlamento terá agora 30 dias para a apreciação desses vetos, que poderão ser derrubados ou mantidos.
De acordo com um parlamentar ouvido pelo Estado de Minas, o clima de descontentamento é consequência do fato de a presidente não ter consultado líderes partidários antes de apresentar propostas – primeiro uma Assembleia Constituinte específica para a reforma política, depois um plebiscito. Nem sequer o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), foi procurado. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ao contrário, recebeu uma deferência: a visita do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na qual foram antecipadas as propostas – que o tucano não apoiou.

A intenção dos parlamentares da base não é necessariamente criar problemas para o governo. Mas eles pretendem aumentar as contrapartidas políticas. “O governo terá de negociar, algo que não tem feito ultimamente na relação com o Congresso”, disse o parlamentar.

Não está claro ainda quais vetos serão colocados em votação a partir de hoje. “Não vamos cometer irresponsabilidades, mas deixaremos clara nossa insatisfação”, afirmou outro influente parlamentar, que pediu para não ser identificado. Há cerca de 3 mil vetos na fila para serem analisados. Não faz mais sentido votar aproximadamente dois terços deles, que se referem a matérias já desprovidas de relevância. É o caso das leis de diretrizes orçamentárias ou de orçamento de anos anteriores.

Entre os vetos que podem causar estrago no governo, há temas antigos e recentes. Dos mais novos, por exemplo, há a chamada Emenda Tio Patinhas. O apelido dado pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), refere-se à proposta do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a Medida Provisória dos Portos para conceder renovação automática de concessões de terminais a empresas. Esse item foi eliminado na sanção presidencial da lei no mês passado.

Em 2012, o Código Florestal foi sancionado com nove vetos presidenciais. Esses cortes tiveram como alvo itens que, na avaliação do Executivo, passaram a beneficiar grandes proprietários rurais e prejudicaram o projeto original, que tinha por objetivo proteger o meio ambiente. Por pressão da bancada ruralista, é grande a chance de restauração do texto que as duas Casas do Congresso aprovaram.

Os vetos não são a única arma de pressão dos parlamentares. Eles citam também o crescimento das chances de aprovação de projetos com grande impacto fiscal, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300, que equipara os salários de todos os policiais do país aos do Distrito Federal, em patamar bem maior do que a média nacional.