Jornal Estado de Minas

Feliciano ameaça rebelião evangélica

Deputado diz que governo deve lembrar que no ano que vem tem eleição antes de interferir na votação da 'cura gay'

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Deputado pastor Marcos Feliciano recomendou 'juízo' a ministros - Foto:
Brasília
– Com um discurso inflamado, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Marco Feliciano (PSC-SP), ameaçou nessa quarta-feira uma rebelião da bancada evangélica caso o governo interfira na votação do projeto conhecido como "cura gay". Ao negar que a aprovação da proposta na comissão tenha sido uma provocação aos manifestantes que tomam as ruas de vários estados, o deputado disparou ataques a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, que prometeu mobilizar o governo para evitar que a proposta avance na Casa. Feliciano recomendou "juízo para a dona ministra", disse que ela "mexe onde não devia" e a aconselhou a procurar a presidente Dilma Rousseff porque "no próximo ano" tem eleições.

Nessa quarta-feira foi a vez de o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, seguir a posição de Maria do Rosário e criticar a aprovação do projeto de lei de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO) que permite a psicólogos oferecer tratamento para a homossexualidade. "Não é correto um projeto de lei querer estabelecer cura para aquilo que não é doença. Acredito que essa Casa, que fez a Constituição e o SUS (Sistema Único de Saúde), certamente (...) vai julgar que um projeto não pode estabelecer cura para aquilo que não é doença", disse Padilha após encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

O texto precisa ainda passar pelas comissões de Seguridade Social e Constituição e Justiça. Padilha disse que conversou sobre o tema com os presidentes dos dois grupos e disse acreditar que a questão será tratada "de forma sensata" nelas.

Feliciano incluiu Padilha em suas ameaças. “Estamos sendo achincalhados. Quero saber se os ministros Maria do Rosário e Alexandre Padilha falam em nome da presidente Dilma. Se estiverem falando, vamos tomar providências. Estamos nos sentido rejeitados, agem por preconceito só porque somos evangélicos”, queixou-se ele, no plenário.

Antes, o aviso foi mais explícito: "Queria aproveitar e mandar um recado: dona ministra Maria do Rosário dizer que o governo vai interferir no Legislativo é muito perigoso. É perigoso, dona ministra, principalmente porque ela mexe com a bancada inteira", afirmou. Segundo o deputado, Maria do Rosário deveria procurar a presidente Dilma  antes de falar. "A ministra falar que vai colocar toda a máquina do governo para impedir um projeto, acho que ela está mexendo onde não devia. Senhora ministra, juízo. Fale com a sua presidente porque o ano que vem é político", completou.

Em 2010, um dos motivos apontados para a campanha presidencial ter ido para o segundo turno foi a onda de boatos entre eleitores religiosos contra Dilma.

Recurso O vice-líder da minoria na Câmara, o deputado federal Simplício Araújo (PPS-MA), ingressou ontem com recurso contra a aprovação da "cura gay". No recurso ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o parlamentar afirma que Feliciano usou de manobra antirregimental ao colocar em votação a proposta, atropelando o regimento.

ANÁLISE DA NOTÍCIA

Marketing com o dinheiro público

Toda uma comissão a serviço de um só. Quanto mais polêmica provoca o o deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP), mais popular ele se torna  entre o crescente eleitorado conservador. Depois de cinco adiamentos, a comissão que ele preside aprovou o projeto conhecido como “cura gay”, mesmo sem a mínima possibilidade de a proposta passar no plenário, isso se for aprovado em outras duas comissões: Seguridade Social e Constituição e Justiça. Isso mesmo, seis reuniões de comissão, às custas do erário, para satisfazer o ego da bancada evangélica. E com o repúdio das minorias que a comissão diz representar com o nome de Direitos Humanos e minorias. Além de demonstrar desprezo pelo dinheiro público, Feliciano é surdo à voz das ruas que identifica nas propostas dele o retrocesso que as manifestações pelo país querem afastar. (Patrícia Aranha)