Jornal Estado de Minas

Caiu na rede é protesto

Velocidade tem sido a marca da organização das manifestações na internet

Em poucas horas, milhares confirmam presença

Alice Maciel
- Foto: Arte/EM
Não foi a televisão, os jornais impressos e nem as rádios que convocaram os brasileiros para saírem às ruas. As redes sociais foram o trampolim para as manifestações que se espalharam pelo país. Basta um bom motivo e uma página no Facebook para organizar um ato de protesto. As primeiras manifestações contra o aumento das passagens, que começaram ainda tímidas, em Porto Alegre, em março, contavam com cerca de 300 adeptos na rede social. O evento marcado para a próxima segunda-feira na capital gaúcha já conta com mais de 22 mil apoiadores.


Em Porto Alegre, assim como em outras capitais e interior, a multiplicação de adeptos ao movimento nas redes sociais reflete nas ruas. Em Belo Horizonte, por exemplo, 25.354 pessoas confirmaram presença na 1ª Manifestação pela Redução da Passagem, evento criado no Facebook convocando os mineiros para manifestação no sábado. Foram 262 mil convidados, oito mil saíram de casa. Em outro evento, criado com o nome 2º Ato Nacional pela Redução da Passagem (BH), que chamou para a manifestação que aconteceu na segunda-feira, mais de 30 mil pessoas confirmaram a presença, cerca de 300 mil foram convidadas mais de 20 mil pessoas saíram para as ruas.

Os responsáveis por criar os eventos que organizam os protestos no Facebook vão desde pessoas ligadas a partidos, estudantes universitários, a movimentos como o do Passe Livre. Apesar de, inicialmente, terem donos, os convites se espalham nas redes sociais e o alcance sai do controle do seu criador. A professora de Cibercultura da Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMinas) Daniela Serra observa que a internet potencializa as manifestações por ser um espaço de articulação onde a informação circula em uma grande velocidade. “A distribuição é imediata”, acrescenta.

Para Daniela, os protestos não estariam ocorrendo se não fosse a internet. “Isso que estamos vendo não estaria acontecendo se a gente estivesse um modelo de comunicação distribuídos de forma pulverizada em veículos analógicos, que não podem ser apropriados pelas pessoas. A internet é um espaço sem dono. Mesmo que alguns grupos tentem se apropriar do meio, ele foge de controle”, observa.

As manifestações que tomaram conta do Brasil passaram o dia de ontem entre os trend topics – uma lista dos assuntos mais comentados na rede. Manifestações contra os preços das passagens de ônibus, a qualidade dos serviços públicos, o aumento do custo de vida, corrupção e a PEC 37, que pode retirar poderes de investigação do Ministério Público, estão sendo bandeiras na internet e nas ruas. “Não dá mais para distinguir o que é real e virtual. Ora a internet aparece como espaço de visibilidade do que acontece, ora da própria manifestação”, ressaltou Daniela.

Lista

Alguns sites estão fazendo lista das manifestações marcadas para a semana. O site Melhor que Bacon postou uma lista com links para eventos organizados no Facebook em 400 cidades espalhadas pelo mundo onde já existem manifestações confirmadas para os próximos dias, algumas com o objetivo de protestar contra problemas específicos ou por solidariedade ao movimento.

Também na internet, foi criada uma página (nomovimento.com.br/advogados-voluntarios) em que advogados voluntários podem se cadastrar para auxiliar manifestantes e movimentos sociais em todo Brasil, entre outras contribuições, prestando consultoria e ajudando com habeas corpus.