Jornal Estado de Minas

Prefeito do Leste de Minas viaja metade dos dias recebendo diárias

Em 110 dias úteis, prefeito de São João Evangelista passou 58 dias fora da cidade

Felipe Canêdo
- Foto: Quinho/EM
Dos 110 dias úteis transcorridos de 1º de janeiro até hoje, o prefeito de São João Evangelista, Região Leste de Minas, Pedro de Queiroz Braga (PSDB), passou 58 fora da cidade que governa, a grande maioria deles em Belo Horizonte, e recebeu nada menos que R$ 20.042,04 em diárias por isso. Ele afirma que em todas as viagens estava a serviço da prefeitura, mas admite que tem um filho residente na capital mineira, distante 290 quilômetros de São João.


O presidente da Câmara Municipal, Sebastião Barbosa Sobrinho (PTdoB), diz que o prefeito tem um apartamento em BH e dois filhos que moram na região metropolitana – um deles, uma estudante em Lagoa Santa – e considera “muito estanho ele ir tanto à cidade”. O vereador anuncia que já tem assinaturas suficientes para a instauração de uma comissão parlamentar de inquérito que irá investigar os gastos de Pedro de Queiroz Braga. Já o prefeito se defende dizendo que cumpre muitas agendas na capital mineira: “Estamos em um ano pré-eleitoral. Faço visitas assíduas a todos os secretários de governo, vou com muita frequência à Assembleia (Legislativa de Minas Gerais), visito escritórios de deputados federais, vou à Copasa e visito as assessorias contábil e jurídica do governo. Se eu aceitasse todos os convites que recebo não ficava em São João nem um dia”, alega.

Para Sebastião Sobrinho, o fato de o prefeito ter recebido um valor que corresponde a 66 diárias de viagem – o valor da diária é R$ 300 – em tão pouco tempo atesta as “más intenções” de Pedro de Queiroz. Além dos cinco vereadores que assinam o pedido de criação da CPI – Erziléa Soares dos Santos (PMDB), Jadir Reis Costa (PSD), Daniel Washington Vieira da Silva (PSC) e José Jaconías de Jesus (PTB) –, a vereadora Luzia Nunes Garcia da Costa (PHS), integrante da base do prefeito, já anunciou que irá integrar a comissão.

Gastos declarados com os motoristas da prefeitura Luiz Otávio Amaral Andrade e Vicente Silva Carvalho, que receberam respectivamente R$ 7.110 e R$ 1.800 de diárias desde janeiro, também devem ser investigados, afirma o presidente da Câmara. Segundo dados do portal da transparência do município e do próprio site da prefeitura, foram pagos a eles também R$ 1.951,02 para cobrir despesas de viagens. Ele acrescenta que não há motivo para tantos gastos nas viagens porque a prefeitura tem um apartamento alugado em BH destinado a auxiliar no atendimento de Saúde de São João, onde os motoristas costumam se hospedar.

O prefeito afirma que visitou Governador Valadares também, distante 150 quilômetros, no Vale do Rio Doce, para tratar de questões de convênios de Saúde, mas admite que a “grande maioria” das viagens oficiais que fez foram para Belo Horizonte. Ele reclama também do que chama de “oposição selvagem” e acusa Sebastião Sobrinho de ter interesses em contratos do município. “O irmão do presidente da Câmara era responsável pela limpeza urbana na última gestão da prefeitura. Eu não aceitei continuar com ele e resolvi fazer uma licitação”, acusa. O prefeito disse que trabalha muito: “fico os fins de semana quase todos aqui na prefeitura”. Afirmou ainda que todos os dados relativos a gastos de sua gestão estão à disposição de quem quiser consultá-los.