Jornal Estado de Minas

Abismo social barra a igualdade entre negros e brancos no país

Grasielle Castro
Uma abolição incompleta. É o que mostram praticamente todos os indicadores sociais brasileiros, quando é feito o recorte racial. Os negros são mais mal assistidos que a população branca. Os números envergonham: a população negra têm 1,6 ano de estudo a menos que a branca; representa 65,1% das vítimas de homicídios; e sustenta uma taxa de mortalidade infantil 60% maior que a da população branca.
“Hoje o negro não tem como não se revoltar. É fato que deram mais oportunidades ao filho do imigrante italiano, que era tão pobre quanto seus antepassados, do que deram para ele”, compara o historiador Bruno de Cerqueira, da Universidade de Campinas (Unicamp). E ele ressalta que o racismo nunca foi tão cruel quanto na República Velha, depois da queda da monarquia. “Não havia código negro, como em outros países, mas o apartheid que se faz de forma institucional é ainda melhor do que aquele não declarado. O que se fez com os negros aqui foi, simplesmente, não dar oportunidades, deixá-los à margem, nas posições menos qualificadas”.

A ideia de inferioridade determinada pela cor da pele só foi questionada abertamente em 1932, com a publicação de Casa Grande & Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre. À discriminação velada juntou-se a histórica falta de políticas específicas para essa parcela da população. E, apesar de algumas ações afirmativas, o preconceito não acabou. “A sociedade brasileira é racializada. Quando o negro aparece em um restaurante de melhor nível, todos olham com surpresa. Isso é um fato”, assegura Carlos Sant’Anna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. (Colaborou Renata Mariz)