Jornal Estado de Minas

Com a corda no pescoço

Falta de traquejo em negociações no início do segundo mandato deixa Lacerda isolado

Afastamento de aliados atrasa definição do secretariado

Alice Maciel

 

Lacerda tem dados as costas até mesmo aos padrinhos políticos que trabalharam para a reeleição - Foto: Gustavo Moreno/CB/D.A PressO tratamento diferenciado dado pelo prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), aos ex-funcionários das empresas de telefonia que pertenceram a ele está incomodando aliados, que o acusam de ingratidão. Um mês depois de tomar posse, os únicos cargos garantidos na PBH são do “trio de choque” formado pelos secretários de Governo, Josué Valadão; de Relações Institucionais, Marcello Abi-Saber; e de Serviços Urbanos, Pier Senesi, que trabalharam com Lacerda na época em que ele era empresário. Enquanto isso, dirigentes de partidos que participaram da coligação que o reelegeu reclamam que só ganham do prefeito canetada em suas indicações ao governo municipal.

Criticado pela falta de traquejo nas negociações políticas, Lacerda não parece estar disposto a deixar de lado o perfil técnico e empresarial. Pelo contrário, ele demonstra estar mais fechado para o diálogo e para os pedidos das legendas do que no primeiro mandato. Quando foi eleito pela primeira vez, o socialista abriu as portas da prefeitura para o PT, seu principal aliado nos primeiros anos de governo. Na época, anunciou seu secretariado em dezembro de 2008, antes de tomar posse.   Agora, o único já anunciado por Lacerda é o Secretário de Planejamento, Orçamento e Informação, Leonardo Pessoa Paolucci, que tem perfil técnico.

Nem mesmo seu padrinho político, o senador Aécio Neves (PSDB), está conseguindo emplacar nomes na PBH. Nos bastidores a informação é de que Lacerda vetou todos os candidatos a cargos à prefeitura apresentados pelos tucanos para o segundo escalão, além do deputado João Leite (PSDB) para a Secretaria de Obras. O prefeito argumentou que o parlamentar não ocuparia o cargo porque ele estava gostando muito de quem responde atualmente pela pasta, José Lauro Nogueira Terror, também um ex-funcionário de empresa que Lacerda tinha antes de entrar para a vida pública.

“Se o Marcio tem alguma pretensão eleitoral, ele tem que demonstrar agora e mudar de atitude, porque desse jeito ele vai se autoeliminar”, comentou um aliado do prefeito. Pessoas ligadas ao senador Aécio Neves (PSDB) dizem que o tucano descartou as possibilidades de apoiar Lacerda ao governo de Minas diante da sua resistência em acatar as indicações do PSDB. Nos bastidores, a informação é de que o nome do vice-presidente Alberto Pinto Coelho (PP) está ganhando força no meio tucano para disputar o governo do estado.

Até o momento, é certo apenas que o PSDB vai continuar com a Secretaria de Saúde e com a BHTrans, mas a legenda reivindica também, além da Secretaria de Obras, a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) e a direção de regionais. Em reunião com correligionários, Lacerda afirmou que não vai virar refém dos tucanos assim como foi dos petistas.

PROMESSA No ano passado, quando a aliança entre PT e PSB se rompeu, em junho, e os petistas anunciaram lançar à disputa da PBH o ex-ministro do Desenvolvimento e Combate à Fome Patrus Ananias, Lacerda saiu à procura de aliados para sua coligação com a promessa de “governar junto”, conta o dirigente de um partido que não quis se identificar. Passados quase quatro meses, o compromisso não foi cumprido.

A primeira justificativa apresentada pelo prefeito às legendas para adiar o anúncio da sua equipe foi de que ele iria esperar a eleição da Mesa Diretora da Câmara Municipal, em 1º de janeiro. Pessoas mais próximas a Lacerda contam, portanto, que ele não queria passar aos belo-horizontinos a imagem de um novo governo – sem o PT e com os tucanos. “O Marcio não queria dar esse gostinho ao PSDB. Ele quis mostrar que o projeto de continuidade dele era o vitorioso”, disse fonte ligada ao prefeito.

Aos partidos aliados, Lacerda ainda argumentou para adiar as nomeações que estava avaliando as indicações e que precisava aguardar o senador Aécio Neves voltar de viagem para bater o martelo. A reunião com o tucano foi na terça-feira, mas eles não conseguiram chegar a um consenso. Sem acordo com o PSDB, Lacerda empurrou para depois do carnaval o anúncio do primeiro, segundo e terceiro escalão da PBH. “O prefeito está demonstrando não ter projeto político, desagradando os principais aliados. Ele começou com 18 partidos na base e corre o risco de ficar sem ninguém”, avaliou a fonte.

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QUEDA DE BRAÇO A queda de braço entre Lacerda e o PSDB ficou evidente na disputa da Presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte. O prefeito não aceitou a indicação do vereador Pablito (PSDB), que era o nome do senador Aécio Neves, e só decidiu apoiar Henrique Braga (PSDB) nos últimos minutos antes das votações. Léo Burguês (PSDB) acabou vencendo a disputa.

Para vetar Pablito, o prefeito argumentou que o vereador tinha se aliado ao grupo do vereador Wellington Magalhães (PTN), eleito vice-presidente da Casa. O fato é que Lacerda indicou um vereador desse grupo, Preto (DEM), na semana passada, para ser seu representante no Legislativo. A sua estratégia foi de se aproximar dos novos dirigentes para facilitar a tramitação dos projetos de seu interesse na Câmara.

Em troca do apoio de Preto, Lacerda cedeu a alguns pedidos do vereador. Ele exonerou a responsável na Regional Oeste pela fiscalização de alvarás e cumprimento do Código de Posturas do município, Márcia Curvelano de Moura. A demissão foi avaliada na Câmara como a primeira fatura paga pelo prefeito ao seu novo líder, que teria imposto como condição ao prefeito a ocupação, por seus aliados, da regional para aceitar o cargo. O parlamentar tem base eleitoral nessa região da capital.

Irritação dentro de casa
Se falta ao prefeito Marcio Lacerda (PSB) aliados para ajudá-lo no jogo político, falta também jogo de cintura e pessoas no seu governo para negociar com os servidores. Além da crise com os partidos que participaram da coligação que o reelegeu, Lacerda enfrenta outra com os funcionários da PBH. A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), Célia Lélis, afirmou que servidores do BH Resolve farão greve amanhã. O motivo: o comunicado feito pelo secretário adjunto de Recursos Humanos, Gleison Pereira de Souza, ao sindicato de que as vagas no BHResolve, atualmente ocupadas por funcionários efetivos, serão ocupadas por terceirizados e que todos os concursados – cerca de 300, segundo a presidente do sindicato – serão realocados na prefeitura.

Segundo ela, os funcionários há algum tempo vêm reivindicado à prefeitura melhores condições de trabalho “pela complexidade do trabalho que é prestado ali”. O BH Resolve é uma central de atendimento ao cidadão que reúne 600 serviços da prefeitura. Uma das reivindicações dos servidores é a redução da jornada de trabalho, hoje de 40 horas semanais. Eles chegaram a fazer greve em dezembro para cobrar as melhorias à PBH. Célia Lélis afirmou que o salário dos servidores do BH Resolve é, em média, de R$ 1.460.

“Essa é uma situação que nós consideramos gravíssima. A prefeitura está desafiando o Ministério Público”, ressaltou referindo-se ao termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado pelo Ministério Público de Minas Gerais e pela PBH em 2011, com o objetivo de regularizar a situação dos servidores temporários. “Vamos cobrar medidas do Ministério Público e também da Câmara Municipal”, garantiu Célia.

Ao todo, segundo levantamento do Sindibel, a PBH conta com 34.271 servidores efetivos e 20.813 terceirizados nas áreas de educação, administração, saúde, assistência social, nas fundações municipais de Parques, Cultura e Zoo-Botânica, no Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e Hospital Odilon Behrens. Ou seja, dos 55.084 servidores, 37,8% são terceirizados. Ainda de acordo com dados do Sindibel, três concursos estão em aberto. Além do da Secretaria Adjunta de Assistência Social, os das secretarias de Saúde e de Recursos Humanos oferecem 2.434 vagas.

O Sindibel afirma que a prefeitura não cumpriu todo o TAC, que venceu em 31 de dezembro. Já o Executivo alega que o TAC foi cumprido em todas as áreas, com exceção da Guarda Municipal, que, em acordo com o MP, teve estendido o prazo para o cumprimento do termo. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da PBH não enviou resposta sobre os comentários do Sindibel até o fechamento desta edição. (AM)