Jornal Estado de Minas

Preservação do patrimônio segue em marcha lenta na Câmara de Congonhas

Daniel Camargos
Votação em primeiro turno do projeto foi marcada por manifestações de moradores de Congonhas - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A PRESS - 25/9/12
O ritmo lento dos vereadores de Congonhas, na Região Central de Minas Gerais, coloca em risco a preservação da Serra Casa de Pedra, moldura natural do conjunto arquitetônico da Basílica de Bom Jesus do Matosinhos, que inclui os 12 profetas esculpidos por Aleijadinho e tombados como Patrimônio Histórico da Humanidade. O Projeto de Lei 027, de 2008, de iniciativa popular, foi votado em primeiro turno no final de setembro, quando aprovado por unanimidade. Porém, um novo obstáculo atrasa a apreciação da proposta de tombamento em segundo turno. Uma emenda elaborada pelos vereadores Anivaldo Coelho (PPS) e Antônio Eládio (PV) ampliou a área protegida pelo projeto de lei e contemplou uma propriedade já explorada pela Vale.

A entrada da Vale torna ainda mais complexa a relação de interesses em torno da preservação da Serra Casa de Pedra. A proposta original do projeto delimita a área a ser explorada na Serra, principalmente no Morro do Engenho. A área é fundamental para um investimento de R$ 11 bilhões que a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) planeja em Congonhas. De acordo com relatório do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o morro tem 29 captações de água, que são responsáveis por metade do abastecimento de Congonhas.

O tombamento da Serra da Casa de Pedra foi feito em 2007, mas a delimitação da área deveria ser feita por meio de projeto de lei, votado em setembro, em primeiro turno. A necessidade de a votação em segundo turno e a sanção do prefeito acontecer este ano se deve ao prazo do protocolo assinado entre a CSN e os órgãos públicos, que vence em dezembro. Além disso, caso o projeto não seja votado em segundo turno até o final da atual legislatura será arquivado e a apreciação deverá começar de novo.

O terreno da Vale contemplada pela emenda é conhecido como área da Bandeira e fica na divisa com o terreno da CSN. O local é rico em minério de ferro e também em nascentes de água. É localizado próximo ao Parque da Cachoeira, área de lazer da comunidade. De acordo com a Vale, em nota enviada pela assessoria de impressa, informou que “está buscando, a partir do diálogo aberto com a Câmara Municipal, meios para conciliar a preservação proposta para a área, em harmonia com suas propriedades e operações na região”.

De acordo com o vereador Coelho, vice-presidente da Câmara, os parlamentares farão uma visita ao local na segunda quinzena deste mês para avaliar o que ocorre no terreno e só depois será marcada a data do segundo turno da votação. Coelho afirma que na área já acontece exploração mineral. O vereador Eládio reforça que a Vale já tem licença para a ampliação da exploração mineral. Diz que ele e seus colegas parlamentares vão verificar na visita se as nascentes estão protegidas.

Caso a votação em segundo turno não aconteça neste ano a maioria dos novos vereadores deverá se inteirar do assunto para apreciar o tema. Apenas quatro dos nove vereadores foram reeleitos. Além de Eládio, o presidente da casa, Eduardo Matosinhos (PR), Rodolfo Gonzaga (PT) e Advar Barbosa (PSDB). A partir do ano que vem a Câmara terá 13 vereadores. Ou seja, serão nove novatos.