Jornal Estado de Minas

Em clima tenso, ministros batem boca sobre desmembramento de processo do mensalão

Marcelo Ernesto - Enviado especial a Curitiba
Pouco depois do início da sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), uma discussão entre os ministros mostrou o clima de tensão que cerca um dos maiores julgamentos do tribunal. Logo ao abrir sua fala durante o julgamento do Mensalão, na tarde desta quinta-feira, o ministro do Supremo e relator do processo, Joaquim Barbosa, se declarou contrário ao desmembramento do julgamento dos 38 réus. Ele se manifestou após o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, advogado de José Roberto Salgado, ex-vice-presidente do Banco Rural, apresentar questão de ordem.
Barbosa considerou “irresponsável” voltar ao tema e classificou a postura do colega como "deslealdade". “Nós gastamos quase uma tarde inteira a debater essa questão do desmembramento do processo a pedido do réu Marcos Valério. Precisamos ter rigor ao fazer as coisas neste país. O mais alto tribunal deste país decidiu, não vejo razão, me parece até irresponsável voltar a discutir essa questão”, ressaltou.

Veja imagens do primeiro dia do julgamento


Na sequência, o ministro revisor, Ricardo Lewandowiski, se manifestou favorável ao desmembramento, o que causou a reação de Joaquim Barbosa, que disse que a decisão do colega “lhe causava espécie”. Por alguns instantes, os dois ministros discutiram sobre o assunto e precisou que o presidente da Corte, ministro Ayres Britto, interferisse e garantisse a fala de Lewandowski, que se disse “à vontade” para para fazer a opção pelo desmembramento. “Nos últimos seis meses analisei de forma vertical e estou à vontade para verbalizar. Ainda conforme o ministro, esse é um fato novo e merece ser analisado. “Estamos sim, diante de um aspecto novo, de uma questão inconstitucional ainda não enfrentada pela Corte. O desmembramento foi feito em um julgamento apertado na época”, defendeu.

Decididas as questões de ordem, o relator da ação penal, ministro Joaquim Barbosa, lerá um relatório resumido de três páginas, lembrando a história do processo. Em geral, os relatórios de casos de impacto têm pelo menos uma dezena de páginas, mas os ministros decidiram reduzir essa etapa para poupar tempo.

Depois disso, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, falará por cinco horas, destacando as conclusões do Ministério Público sobre a culpa de cada réu. Ele será o único a se manifestar nesta quinta-feira e a sessão será encerrada logo após suas considerações.

O julgamento recomeça nesta sexta-feira, com a participação dos advogados de cinco réus, que falarão por uma hora cada um, começando pelo representante de José Dirceu. Como são 38 réus, a argumentação da defesa termina no dia 14 de agosto.

Com Agência Brasil