Jornal Estado de Minas

Presidente do TCE sai e o filho ganha cargo como herança

Sete dias depois de Antonio Andrada ter renunciado ao posto de presidente e conselheiro do TCE, seu filho é nomeado assessor da presidência do tribunal com salário de R$ 13,8 mil

Leonardo Augusto Isabella Souto

Nomeação de Bonifácio, filho de Antonio Andrada foi publicada em 23 de maio no Diário Oficial do TCE Curiosamente, a mesma data da publicação da saída do conselheiro - Foto: (Maria Tereza Correia/EM/D.A PRESS - 18/7/08)Durou apenas uma semana a ausência de um representante da tradicional família Andrada, de Barbacena, no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG). Exatamente sete dias depois de Antonio Carlos Andrada, presidente da Corte, renunciar ao cargo para disputar a prefeitura da cidade nas eleições de outubro, seu filho Bonifácio José Suppes de Andrada foi nomeado assessor do atual ocupante do cargo, o conselheiro Wanderley Ávila, com salário de R$ 13.847, valor superior ao que recebe, por exemplo, um secretário municipal na Prefeitura de Belo Horizonte.

A nomeação de Boninho, como é conhecido em Barbacena, foi publicada no Diário Oficial do TCE no dia 23. Advogado, o filho de Andrada, de 25 anos, pensava, pelo menos inicialmente, ao término da faculdade, há cerca de três anos, em prestar exame para o Itamaraty e se enfronhar em uma carreira diplomática. Antes, no entanto, anunciou que queria estudar inglês na Austrália.

No TCE, porém, terá vida bem mais tranquila que a preparação para o temido teste de acesso ao Ministério das Relações Exteriores do governo brasileiro. O cargo que vai ocupar no gabinete do presidente Wanderley Ávila é o de um “figurante muito bem remunerado”, na definição de um servidor do tribunal. “Não é uma função de relevância. É uma espécie de transmitidor de recados para o presidente”, afirma.

Um ocupante anterior do cargo, Leonardo Ferraz, no entanto, chegou a se destacar no posto, lembra o servidor. Também era filho de um ex-presidente do TCE, José Ferraz, que morreu em 2004. “A diferença é que trabalhou no tribunal durante 20 anos, mesmo depois da morte do pai. Tinha autonomia. Resolvia problemas e representava os presidentes que assessorou fora do TCE. ”, lembra o funcionário. O tempo, portanto, pode ajudar Boninho a alcançar brilho maior, caso não volte a pensar na Austrália ou retomar o projeto Itamaraty.

A nomeação do filho de Andrada como assessor na presidência do TCE faz parte de uma espécie de pacote de bondades – bancado com dinheiro público – criado no fim da gestão do conselheiro. Nos dias 18, 19 e 20 deste mês, um fim de semana, 445 servidores do tribunal foram participar, com tudo pago pela Corte, de um workshop num hotel fazenda em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A conta ficou em R$ 336 mil, conforme licitação feita pelo TCE para contração do serviço.

Na justificativa para a abertura da concorrência, o tribunal alegou que, para alcançar “o resultado almejado”, o grupo precisaria realizar trabalhos em “regime de imersão em espaço localizado fora do ambiente de trabalho e da capital”. Aliás, imersão era o que não faltaria no hotel, que oferece piscinas externas com toboágua e internas climatizadas. Já a parte do edital que falava em “espaço fora do local de trabalho e da capital” parece na medida para evitar a utilização do auditório do TCE, na sede do tribunal, na Avenida Raja Gabaglia, com capacidade para 300 pessoas, para o workshop.

Nepotismo Com a nomeação do filho depois de sua renúncia, o ex-conselheiro Andrada escapa da lei federal que proíbe o nepotismo. Ele mesmo disse ontem ao Estado de Minas que a indicação do filho para o cargo é sua e que só não o fizera antes porque configuraria nepotismo. Segundo Andrada, Boninho merece o cargo porque tem curso superior e está fazendo mestrado. “Será um curinga do presidente”, afirmou.

No discurso de despedida da presidência do TCE, o ex-conselheiro citou o avô, Zezinho Bonifácio, deputado federal por quadro mandatos, de 1945 a 1962. Disse o ex-presidente do tribunal: “E só hoje, passados tantos anos, pude entender a dimensão daquelas assertivas, que ecoam cada vez mais alto nas minhas lembranças, como um irresistível chamamento a despertar minha vocação pública. Ele, discursando em ambiente de muita vibração política, em certo trecho de sua fala, dirigindo-se aos presentes como que definindo ou justificando seu comportamento, disse: ‘O homem público tem como morada as praças. E como refúgio as ruas das cidades. Para as praças e ruas. É pra lá que eu vou’”. Andrada pode até ir ao relento, mas deixa o filho muito bem abrigado no gabinete que ocupou.

Enquanto isso...
…Cinco lutam por vaga

A vaga de Antônio Carlos Andrada, primeiro conselheiro a renunciar à vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Minas Gerais, só deve começar a ser disputada oficialmente nos próximos dias, quando for lida a vacância no plenário do Legislativo, mas já é disputada por pelo menos cinco pré-candidatos na Assembleia. De olho no cargo vitalício, com salário de R$ 24.117,62 e todas as prerrogativas de um desembargador de Justiça, os deputados Doutor Viana (DEM), Sebastião Costa (PPS), Ivair Nogueira (PMDB) e Dalmo Ribeiro (PSDB) se movimentam para convencer os colegas parlamentares, que decidirão no voto quem será o próximo conselheiro. Por fora corre o consultor da Casa Alexandre Bossi, vice-presidente do Conselho Estadual de Contabilidade. O número de candidatos ainda pode crescer. Conforme mostrou o Estado de Minas na última segunda-feira, a vaga é aberta a qualquer brasileiro que tenha entre 35 e 65 anos e notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos, financeiros ou de administração pública, comprovados com no mínimo 10 anos no exercício das respectivas funções. Também é preciso idoneidade moral e reputação ilibada.