Jornal Estado de Minas

Para driblar risco de desgaste com Planalto, caciques de partidos ficam fora da CPMI de Cachoeira

Gabriel Mascarenhas Junia Gama Erich Decat
Os caciques dos principais partidos da base aliada ficaram de fora da CPI do Cachoeira e fizeram uma escolha por eliminação para eleger os representantes do Senado que vão investigar as relações do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados. Como o Estado de Minas mostrou na segunda-feira, caberá a senadores com pouca representatividade, como suplentes e parlamentares em primeiro mandato, a tarefa de blindar o Palácio do Planalto da ameaça de uma CPI apoiada por opositores e governistas e que ninguém sabe onde vai respingar.
No fim da manhã, o deputado petista Odair Cunha (MG) foi anunciado como relator da CPI. À noite, em sessão do Congresso, os partidos apresentaram todos os nomes que vão integrar a comissão (veja quadro). Do PMDB, o líder da legenda, Renan Calheiros (AL), o ex-líder do governo Romero Jucá (RR) e o atual representante do Executivo no Senado, Eduardo Braga (AM), confirmaram que estão fora da CPI. Embora as justificativas públicas sejam distintas, a razão para a recusa é a mesma: risco de desgaste político e de perda de prestígio com o Planalto caso surjam denúncias contra o governo e a base aliada não consiga administrá-las. Além de Vital do Rêgo, presidente da CPI, o PMDB escalou os senadores Ricardo Ferraço (ES), que cumpre seu primeiro mandato, e Sérgio Souza (PR), suplente da atual chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. “As pessoas não quiseram (compor a CPI). Indicamos os que toparam”, admitiu Renan Calheiros.

Demóstenes

O PT, partido da presidente Dilma Rousseff, abriu mão de uma das três vagas de titular a que tinha direito e manterá na CPI apenas os senadores da legenda que integram o Conselho de Ética, onde corre o processo de quebra de decoro parlamentar contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), que esteve no plenário ontem. O parlamentar anunciou que apresentará hoje a sua defesa. Cotados para uma vaga de titular, os petistas Welington Dias (PI) e Jorge Viana (AC) ficaram como suplentes – o que também ocorreu com o líder do partido, Walter Pinheiro (BA). Sobrou para Lídice da Mata (PSB-BA) uma das cadeiras de titular do bloco, que conta ainda com PDT, PSB, PCdoB e PRB.

Entre os integrantes do bloco União e Força (PR, PTB e PSC), até a suplência assusta. Presidente do PR, o senador Alfredo Nascimento (AM) pediu para deixar o posto depois de o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot acusar, por meio da imprensa, assessores do Planalto de trabalharem para derrubá-lo do cargo. “O cara ia entrar numa roubada dessas, tendo que escolher entre um correligionário e o governo? Claro que não”, justificou um aliado de Nascimento.

O conteúdo explosivo da CPI está garantido com a participação de parlamentares ressentidos. Parte da bancada petista, que guarda mágoas do episódio do mensalão, e o senador Fernando Collor (PTB-AL) estão nessa lista. As estratégias incendiárias não pouparão nenhum dos poderes. A primeira convocação seria a do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. No Executivo federal, o grande temor governista recai sobre possíveis revelações de Antônio Pagot.

Enquanto isso...

… STF desmembra Processo

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski desmembrou ontem as investigações relativas à Operação Monte Carlo, determinando a abertura de três inquéritos que tramitarão no Supremo Tribunal Federal (STF). Além da investigação já existente contra o senador Demóstenes Torres (sem partido- GO), vão tramitar no STF inquéritos contra os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Stephan Nercessian (PPS-RJ). Lewandowski liberou três cópias do processo ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para que ele decida se vai enviar aos foros competentes o pedido de abertura de inquérito contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres.