Questionado por que só agora o projeto será desengavetado, o senador Delcídio do Amaral afirmou que existia um cronograma a ser cumprido. "Temos uma fila e respeitamos a sequência. Mas, como se trata de assunto bastante relevante e que a opinião pública vem acompanhando de perto, vamos priorizá-lo totalmente aqui na comissão. Queria colocar o projeto para votação já na próxima semana, mas não posso fazer isso, em razão da visita do ministro da Fazenda, Guido Mantega."
Discurso vazio
Na terça-feira, sem nem sequer terem debatido nem mexido um dedo para acabar com os extras, líderes de bancada, num jogo de cena protagonizado por governo e oposição, manifestaram total apoio ao projeto. A matéria prevê que os senadores da República e deputados federais passem a receber apenas a ajuda de custo no início e no fim do mandato.
O entendimento da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, é de que as ajudas de custo só se justificam no começo e término do mandato porque os parlamentares gastam com mudança e transporte. Na Câmara, o deputado José Antônio Reguffe (PDT-DF) apresentou projeto semelhante, três dias antes de a então senadora Gleisi Hoffmann entregar sua proposta, mas o texto não chegou a ser distribuído para as comissões e ainda dorme na Mesa Diretora.
Desde o início deste mandato, apenas quatro deputados abriram mão dos salários extras. Além de Reguffe, os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), Severino Ninho (PSB-PE) e Érika Kokay (PT-DF) enviaram à Direção-Geral da Câmara o pedido para não receberem o montante. Nenhum senador abriu mão do benefício oficialmente. O presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP), foi procurado pelo Estado de Minas na tarde de ontem para se posicionar sobre o assunto, mas preferiu não emitir nenhuma opinião sobre o tema.
Segundo a assessoria de imprensa do Senado, o pagamento do benefício está amparado em decretos legislativos que asseguram o caráter indenizatório. Na Câmara, o 14º e 15º salários sofrem descontos normais de 27,5% no Imposto de Renda.
Derrota de Dilma
A rejeição ao nome de Bernardo Figueiredo foi a primeira derrota da presidente Dilma Rousseff neste ano. Em votação secreta, os senadores negaram ao indicado da presidente, por 36 votos contra 31, o direito de permanecer à frente da ANTT nos próximos quatro anos. O senador Roberto Requião (PMDB) acusou o diretor-geral de ter feito carreira na iniciativa privada e, ao assumir a ANTT, passar a defender os interesses das empresas do setor. Ele reforçou suas queixas se valendo de recente auditoria do Tribunal de Contas da União, que apontou irregularidades em concessões ferroviárias e baixa fiscalização, além de ter criticado o aumento do trem-bala, o principal projeto da agência para os próximos anos. O argumento técnico foi um pretexto para expressar o descontentamento da base.