A longa espera pelos recursos que permitiriam tirar do papel as principais obras de infraestrutura vai na contramão de uma famosa tradição de resistência atribuída a Minas Gerais. Desde o final do século 17, com o início do povoamento na região, até a presença constante das lideranças políticas do estado nas decisões pós-ditadura militar, já no final do século XX, os episódios de resistência e reivindicações marcaram as atuações de representantes mineiros no cenário político nacional. Seja por meio de mobilizações contrárias ao modelo tributário determinado pela Coroa seja na insatisfação com a administração federal, a voz de Minas se fez ouvir em todos os períodos históricos do Brasil.
Apesar da dura repressão, a insatisfação continuou e, sete décadas depois, outro grupo – este composto de intelectuais, religiosos, militares e fazendeiros – passou a se organizar para formar um movimento contra a exploração excessiva da Coroa Portuguesa. Os integrantes da elite de Vila Rica – atual Ouro Preto – pretendiam se revoltar contra a cobrança da derrama, uma operação fiscal determinada pela metrópole para confiscar bens de todos aqueles que deviam impostos à Coroa. “A Inconfidência Mineira foi uma tentativa de dizer não à exploração e mudar o cenário de falta de liberdade dos colonos para questionar o sistema de cobranças”, explica o historiador.
Segundo o sociólogo e cientista político Otávio Dulci, especialista em políticas de desenvolvimento regional, a partir da decadência do ciclo do ouro a população passou a se dispersar no território mineiro, o que afetou diretamente a tendência à contestação. “O ambiente social e político se mostrou profundamente conservador no regime monárquico e também no republicano. O esquema das oligarquias e o coronelismo fortaleceram a influência de Minas no âmbito nacional, já que a atuação acontecia de maneira coesa para promover os interesses do estado”, explica Dulci.
Pacto rompido As primeiras décadas da experiência republicana no Brasil também contaram com a participação efetiva de Minas Gerais. A política café com leite – apelido que se refere às economias produtoras de São Paulo e Minas – começou em 1898 e se expressou num acordo que previa o revezamento das oligarquias estaduais para a indicação de políticos à Presidência. Em 1929, um grupo da liderança paulista passou a exigir maior participação no governo federal e quebrou o acordo de alternância de poder, nomeando o interventor paulista Júlio Prestes para o principal cargo do país.
O desagrado das elites mineiras, que esperavam a indicação de Antônio Carlos de Andrade e Silva, foi tanto que o grupo formou uma nova aliança, dessa vez com o Rio Grande do Sul e a Paraíba. Getúlio Vargas foi o escolhido pelo grupo e assumiu o poder por meio da Revolução de 1930, mesmo derrotado nas eleições presidenciais. “Minas Gerais tinha o que mais gerava riqueza para qualquer nação: agricultura e pecuária fortes e uma fonte muito rica que vinha da mineração. Atividades que acompanharam a busca pelo ouro nos séculos anteriores, ou seja, tudo que é preciso para o desenvolvimento econômico e social”, analisa Antônio de Paiva Moura.
LINHA DO TEMPO
1720 Revolta de Filipe dos Santos
A insatisfação com as regras determinadas pela Coroa para tributar o ouro extraído na colônia levou um grupo a se revoltar com a situação. Liderados por Filipe dos Santos, cerca de 2 mil mineiros brigaram pela redução dos impostos, mas o movimento foi reprimido por tropas portuguesas
1789 Inconfidência Mineira / Vila Rica
O movimento tramado por um grupo de mineiros que convocaria toda a população de Vila Rica às ruas, contra a Coroa, acabou fracassando. Seus participantes foram expulsos do país e Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se tornou o mártir da Inconfidência, condenado à forca e esquartejamento
1929 Rompimento da política café com leite
A insatisfação das oligarquias mineiras com a nomeação do paulista Júlio Prestes, no lugar do político mineiro Antonio Carlos de Andrade e Silva, teve peso decisivo no rompimento do acordo que vigorou no Brasil por 30 anos
(Geraldo Vieira/Divulgação)
1960 Inauguração de Brasília
A nova capital federal foi inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo presidente Juscelino Kubitschek. A intenção de levar o desenvolvimento para a região central do país já havia sido discutida em governos anteriores – até dom Pedro I avaliou a ideia –, mas somente com o presidente mineiro ela ganhou força e se tornou realidade
1985 Tancredo Neves é eleito Presidente da República
Candidato da Aliança Democrática, o político mineiro venceu a votação do colégio eleitoral. Na véspera de tomar posse, em 14 de março de 1985, ele foi internado em estado grave no hospital e o vice-presidente José Sarney acabou assumindo o cargo. O mineiro morreu em 21 de abril