Jornal Estado de Minas

Gasto anual com salários dos parlamentares pode chegar a R$ 637 milhões

Isso se todas as câmaras municipais de Minas decidirem reajustar os vencimentos dos vereadores no teto, como fez BH

Isabella Souto
Se os quase 8,7 mil vereadores dos outros 852 municípios mineiros seguirem o exemplo dos colegas de Belo Horizonte, o contribuinte de Minas Gerais gastará por ano R$ 637 milhões somente com os salários dos parlamentares. O valor estima o custo com o contracheque do Legislativo caso todas as câmaras municipais reajustem os vencimentos pagos atualmente ao teto previsto na Constituição Federal – entre 20% e 75% do que recebem os deputados estaduais, percentual que varia de acordo com a população. Os dados fazem parte de um estudo feito pela Associação Transparência Municipal para o Estado de Minas.
A prática atual, no entanto, mostra que nem todas as câmaras municipais pagam o teto aos seus parlamentares – especialmente aquelas dos municípios menores, até 50 mil habitantes. Para ter uma ideia, segundo dados do portal Interlegis, no ano passado o custo com os vereadores de Minas Gerais chegou a cerca de R$ 240 milhões. Se eles aplicarem o reajuste até o limite permitido, como foi feito em Belo Horizonte (61,8%) ao valor que é gasto atualmente, a folha total chegaria a R$ 388,3 milhões – R$ 248 milhões abaixo do máximo permitido pela Constituição Federal.

“Geralmente nas cidades pequenas os vereadores trabalham um dia por semana. Já pensou ganhar o equivalente a 10 salários mínimos? A população não ia aceitar”, afirmou o economista da Transparência Municipal François Bremaeker. Uma outra razão para o valor abaixo do legal é que o orçamento das câmaras é calculado de acordo com a receita da prefeitura. Pela Constituição, os índices de repasse variam de 3,5% a 7%, também de acordo com a população. Legislação ainda prevê que a folha de pessoal – incluindo parlamentares e os funcionários comissionados e concursados – não pode ultrapassar 70% do orçamento da Casa.

Os vereadores de todo o país podem reajustar seus salários a partir de 2013 porque a Constituição Federal vincula o contracheque deles ao dos deputados estaduais, que por sua vez é atrelado ao que é pago na Câmara dos Deputados. No final do ano passado os deputados federais reajustaram o vencimento deles em 61,8% – valor que passou a vigorar em fevereiro deste ano, quanto teve início a nova legislatura. A partir de fevereiro o aumento foi repassado aos deputados estaduais.

Em efeito cascata, os vereadores passaram a ter direito a reajuste semelhante. No entanto, a Constituição determina que alterações salariais só podem ser efetuadas de uma legislatura para outra, evitando que os parlamentares legislem em causa própria. Na semana passada, em apenas cinco dias a Câmara aprovou o aumento que vai vigorar a partir de janeiro de 2013. O contracheque atual de R$ 9.288 vai saltar para R$ 15.031,76, o equivalente a 75% do que ganha um deputado mineiro.

Apresentado pela Mesa Diretora, a estratégia de antecipar para este ano a discussão do reajuste tem o objetivo de evitar um desgaste com o eleitor em 2012, ano de eleições. O aumento de 61,8% supera a previsão do acumulado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial, nos quatros anos do atual mandato, que é de 24,03%. Na ponta do lápis, se o projeto de lei for sancionado pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB), os parlamentares terão um aumento real de 30,45% em seu vencimento.