Os partidos de esquerda e os sindicatos estão especialmente preocupados com os efeitos políticos da aprovação de um projeto dessa natureza pela proximidade do ano eleitoral. “Eu não entendo como o nosso governo concorda em assumir um desgaste deste tipo”, reclama o diretor-executivo da CUT e coordenador do setor público da entidade, Pedro Armengol. “O PMDB não precisa se preocupar com esse desgaste, eles e o PSDB são a mesma coisa. Nós é que temos de carregar esse peso”, reclamou.
Na semana passada, os sindicatos perturbaram os petistas, sobretudo o relator do projeto, deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-ministro da Previdência e ex-presidente do Sindicato dos Bancários. Berzoini era titular da pasta, em 2003, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ao Congresso o projeto de reforma da Previdência. A base sindical do PT estrilou, parte dos parlamentares deixou a legenda para fundar o PSol e Lula só conseguiu aprovar a taxação de 11% dos inativos. Em 2005 estourou o escândalo do mensalão, Lula foi às ruas buscar apoio dos movimentos sindicais e sociais e, ao ser reeleito em 2006, sepultou qualquer mudança nova nas regras de previdência do funcionalismo público.
Os partidos aliados sabiam que Dilma retomaria a proposta do fundo de previdência privada do funcionalismo. Tanto que o PMDB reclamou muito ao ser informado de que o Ministério da Previdência ficaria com o partido. O senador Eduardo Braga (PMDB-AM), primeiro a ser cogitado para o cargo, disse “não, obrigado”, afirmando que seria mais útil ao país cumprindo seu mandato na Casa. Sobrou para Garibaldi. Um ano depois, o partido sente-se confortável. Está adorando a chance de polarizar com os aliados de esquerda. “Eles não podem esquecer que somos da chapa presidencial. Não somos integrantes da base, somos governo”, lembrou um aliado do vice-presidente, Michel Temer.
A relação do Planalto com a cúpula do PMDB sempre é tensa e, não raro, envolve cobranças por cargos. No setor elétrico, Dilma perdeu a paciência. Quando Henrique Alves disse, no início do ano, que não aceitaria a substituição de nomes em Furnas, a presidente explodiu. “Não estou perguntando o que você quer, estou dizendo o que eu quero”.
Na semana passada, o presidente do Senado, José Sarney, foi à presidente pedir, em troca do apoio do partido à PEC da Desvinculação dos Recursos da União (DRU), cargos em estatais e na Agência Nacional do Petróleo (ANP). Aliados da presidente dizem que ela só analisará os pedidos após a reforma ministerial, de janeiro.