Jornal Estado de Minas

Fraturado, PDT empurra Lupi

Correligionários do ministro defendem sua saída do cargo durante audiência no Senado. Dentro da legenda, possíveis sucessores já se movimentam na disputa pelo ministério

Josie Jerônimo

"Entendo que o PDT deva se afastar, porque não detém mais a confiança da sociedade brasileira nesse ministério" - Pedro Taques, senador (PDT-MT) - Foto: Paulo de Araújo/CB/D.A Press

 

O PDT não consegue mais esconder as fraturas que a crise que atinge o Ministério do Trabalho provocaram na cúpula do partido. A audiência de ontem na Comissão de Assuntos Sociais do Senado realçou o racha entre representantes estaduais da sigla. Enquanto o líder do partido na Casa, Acir Gurgacz (RO), se esforçou para tentar defender o ministro Carlos Lupi das acusações que pesam sobre ele e a gestão da pasta, seus correligionários no Senado ignoraram o posto de liderança do parlamentar de Rondônia e aproveitaram a sessão para pedir a saída do titular do Trabalho.


 Pedro Taques (MT) e Cristovam Buarque (DF) afirmaram que o correligionário não tem condições de permanecer no cargo. “Em instâncias como a Polícia Federal, a presunção de inocência é fundamental, mas quando se fala em política, se fala em confiança. Entendo que o PDT deva se afastar, porque não detém mais a confiança da sociedade brasileira nesse ministério. Nós do PDT devemos nos apear do ministério”, disse Taques. “Menor do que sair como o senhor está agora, só sair demitido por telefone, como aconteceu comigo”, recomendou Buarque, referindo-se à forma como foi comunicado de sua demissão do Ministério da Educação pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os senadores, entretanto, consideraram que o ministro saiu-se bem no depoimento de ontem.

Além do ministério, provoca a cobiça dos pedetistas a possibilidade da vacância da presidência do partido. Antes mesmo de Lupi deixar a pasta, uma lista de sucessores se movimenta politicamente para ocupar o cargo. Os nomes vêm do Ceará, com o presidente em exercício, deputado André Figueiredo, do Rio de Janeiro, com o deputado Brizola Neto, e do Rio Grande do Sul, com o deputado Vieira Cunha. Maranhão e Distrito Federal também avançam para aproveitar o momento de fragilidade de Lupi, presidente de honra da sigla, e ampliar a participação dos diretórios.

Em São Paulo, o deputado João Dado ganha o apoio do líder sindical Paulinho da Força (PDT-SP) para substituir Lupi no ministério. Paulinho tem sido um dos poucos defensores do ministro em declarações públicas, mas, nos bastidores, articula para emplacar o aliado na pasta.

Balanço

Com o vácuo de poder na cúpula do partido, declarações de correligionários do ministro defendendo a saída e fazendo críticas ao colega se multiplicam mais rápido do que manifestações de apoio. Mas de todas, a que mais chateou Lupi foi a fala de André Figueiredo, sugerindo sua saída. O deputado tenta se cacifar para herdar o ministério, mas tem dificuldade em superar o ranço do partido em indicar nomes fora do eixo Rio de Janeiro–Rio Grande do Sul, estados que produziram os mais fortes representantes da legenda.

Cargo no lusco-fusco O depoimento do ministro do Trabalho no Senado não o tirou de foco nem alterou a disposição da presidente Dilma Rousseff de substituí-lo. Mas garantiu a ele mais algum período no cargo. A avaliação no Planalto é a de que o estrago político causado pela sucessão de versões a respeito da viagem ao Maranhão e as suspeitas de desvio de verbas de ONGs ligadas ao Ministério do Trabalho não se diluiu diante das declarações do ministro ontem no Congresso. O governo considera que Lupi não desfez a impressão de que havia mentido no depoimento inicial, nem apresentou provas a respeito do uso de um avião particular, oferecido pelo empresário Adair Meira, dono de uma ONG que tem contatos de R$ 10,4 milhões com o Ministério do Trabalho. (Com Denise Rothenburg)