Jornal Estado de Minas

Com o afastamento de Lula, PT busca nomes para liderar partido

Paulo de Tarso Lyra
A doença e o tempo que Luiz Inácio Lula da Silva vai passar em tratamento de um câncer na laringe são angustiantes tanto para o ex-presidente quanto para o PT. Acostumado a viajar, subir em palanques, fazer articulações políticas 24 horas por dia — “Ninguém no Brasil veste um pijama à noite e barbeia-se pela manhã pensando em política”, como definiu o governador de Sergipe, Marcelo Déda —, Lula terá de diminuir seu ritmo para vencer a principal batalha da vida. Já o PT precisará reinventar-se nesse período. O partido sabe que só ele consegue unir o partido. E a partir de agora, cada vez mais, a legenda terá de buscar outros caminhos.
A tendência do PT é reforçar o sistema colegiado. Em 2002, durante a primeira campanha vitoriosa de Lula ao Palácio do Planalto, o então presidente nacional do PT, José Dirceu, dividiu essa tarefa com Antonio Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto. Dirceu coordenava a campanha, Palocci o programa de governo. O primeiro, segundo relato de integrantes do partido, “apanhava e era xingado pela militância para convencer o PT da necessidade de coligar-se com a direita”. Palocci amenizava os mercados ao redigir a “Carta ao povo brasileiro”. Lula, quieto, coordenava de longe e só fez valer a sua vontade ao ordenar a Dirceu que convidasse oficialmente o então senador José Alencar para ser o vice.

Na lógica atual petista, Palocci e Dirceu continuarão tendo influência. Mas, diferentemente daquela época, nenhum dos dois pode expor-se publicamente. Os dois ex-homens fortes do governo Lula sucumbiram com denúncias de corrupção. Dirceu é réu no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). Palocci foi exonerado do ministério de Dilma Rousseff por não conseguir explicar o aumento em 20 vezes do próprio patrimônio em um período de quatro anos.

Opção

Outro nome que pode unificar o partido, por ser um interlocutor próximo do ex-presidente, é o assessor especial para assuntos internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia. Ele foi presidente do PT em outro momento delicado, quando o escândalo dos aloprados derrubou Ricardo Berzoini da presidência da legenda e impediu a vitória de Lula no primeiro turno das eleições presidenciais de 2006. Com poder de fogo no governo aquém das expectativas depositadas sobre ele, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também será voz ativa neste momento, já que é o principal representante da segunda maior corrente petista — a Mensagem ao Partido.

Um terceiro caminho apontado por um senador do PT é que as diversas correntes internas e as lideranças regionais façam prevalecer suas opiniões e busquem, entre si, o consenso, sem a necessidade de uma “instância recursal lulista”. O PT hoje tem lideranças pontuais que podem exercer esse papel, como o prefeito de Santo André, Luiz Marinho; o governador da Bahia, Jaques Wagner; e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. São figuras respeitadas no partido, mas que não têm força suficiente para unificar a legenda nacionalmente.

O drama do PT deriva da constatação de que o próprio partido não seria criado sem a figura do ex-presidente Lula. Foi em torno dele que se uniram intelectuais, militantes de esquerda, sindicalistas e representantes dos movimentos eclesiais de base.