Jornal Estado de Minas

Câmara de Belo Horizonte tenta reduzir o poder dos conselhos municipais

Vereadores tentam pela terceira vez limitar o poder dos conselheiros, com um projeto de emenda à lei orgânica submetendo as decisões mais relevantes à Câmara Municipal

Juliana Cipriani Alice Maciel
Plenário da Câmara arquivou projeto que tentou impor limites - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
Depois de duas tentativas frustradas de retirar poderes dos conselhos municipais de Belo Horizonte, os vereadores arquitetaram fazer uma manobra para emplacar uma lei nesse sentido. Com um texto enxuto e por meio de projeto de emenda à lei orgânica da cidade, um grupo capitaneado pelo vereador Preto (DEM) propõe, desta vez, que atos decisórios de relevância precisem de aval da Câmara Municipal e sejam ratificados por resolução para produzir efeitos. A proposta remete à regulamentação da lei, que também está sendo articulada no Legislativo de BH.

Os alvos são anunciados. Os vereadores querem minar o poder de fogo dos conselhos de Meio Ambiente, Políticas Urbanas e Patrimônio Público, responsáveis por autorizar, em suas respectivas áreas, os principais empreendimentos comerciais na cidade. Os conselhos foram criados com base na Constituição Federal de 1988, que prevê a participação da sociedade civil na política. Belo Horizonte tem atualmente 26 conselhos municipais, que contam com o poder de deliberar sobre a política pública, discutir e controlar ações do Executivo.

O projeto apresentado é semelhante aos dois outros que não tiveram sucesso na Casa justamente por pressão da população. O primeiro remetia especificamente as decisões dos conselhos à avaliação dos vereadores. Foi arquivado. O segundo, que trata apenas dos três conselhos mais visados – Meio Ambiente, Política Urbana e Patrimônio Público –, está com a tramitação parada.

Segundo o vereador Cabo Júlio (PMDB), um dos autores do projeto, a nova emenda à lei orgânica seria a solução de problemas. Para o peemedebista, os conselhos estão extrapolando suas funções e invadindo as do Legislativo. “Eles não foram feitos para deliberar, mas para aconselhar, e passaram a extrapolar quando começaram a tomar decisões como se fossem um outro poder”, acusou. Como exemplo do que considera aberrações, Cabo Júlio citou a liberação, pelo Compur, de uma mudança de zoneamento que havia sido negada em projeto que tramitou na Câmara. “E o Comam(Conselho Municipal de Meio Ambiente presta um desserviço ao permitir que o meio ambiente seja destruído em troca de medidas compensatórias como construção de ciclovia. Foi uma forma benevolente de contemplar os grandes empreendedores de BH”, afirmou.

O projeto apresentado, por ser emenda à lei orgânica, não precisa passar pela sanção ou veto do Executivo. Segundo Cabo Júlio, é “um aperfeiçoamento dos outros”.

O argumento não convenceu o vereador Arnaldo Godoy (PT), contrário à limitação de poderes dos conselhos. Ele emitiu parecer contrário ao projeto parado na Casa por considerá-lo inconstitucional. “Estão alegando que eles exorbitam funções, mas não é verdade. Se qualquer conselho extrapolar o que a lei permite, a Câmara já tem poder para fazer um decreto legislativo anulando qualquer irregularidade”, afirmou.