Jornal Estado de Minas

Projetos do governo são fruto de promessas eleitoreiras

Amanda Almeida
Obras esquecidas não são as únicas heranças negativas da corrida eleitoral. Entre as inaugurações do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da então ministra Dilma Rousseff (PT), estão câmpus de universidade inacabado, casas populares em área de risco, rodovia com apenas uma camada de asfalto e campos de irrigação para apenas metade dos anunciados como beneficiados. Consultado, o Ministério do Planejamento, responsável pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), fonte de recurso da maioria das obras, disse que a responsabilidade de execução é dos municípios e estados.
Em fevereiro de 2009, Lula e Dilma inauguraram o câmpus Mucuri da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri. Na época, a imprensa noticiou que o ex-presidente inaugurara a obra incompleta: apenas dois prédios dos 11 prometidos estavam prontos. De lá para cá, segundo os alunos, pouca coisa mudou. A construção dos outros prédios sofreu constantes interrupções e ainda não foi finalizada. Os estudantes continuam ocupando apenas dois prédios. Eles ainda usam biblioteca improvisada e não têm ginásio. Para chegar ao local, só por uma rua de terra ou trilhas de boi.

Apesar de alunos alegarem que só usam dois prédios, segundo o reitor da universidade, Pedro Angelo Almeida Abreu, desde a visita de Lula, outros quatro prédios foram concluídos. Ele confirma que “algumas obras sofreram atrasos ou paralisação” por falta de engenheiro e arquiteto. “Planilhas (de custo) vêm carregadas com uma determinada margem de erro (pela falta dos profissionais) e, por isso, tiveram de receber, a posteriori, termos aditivos e ou licitações complementares”, diz. A previsão inicial de gastos era de R$ 30 milhões. O reitor não informou quanto já foi gasto.

Área de risco

Já em Governador Valadares, na Região Leste de Minas, um conjunto habitacional, entregue por Lula e Dilma em fevereiro de 2010, passa por desapropriação. Ele foi construído, ao custo de R$ 3,5 milhões, justamente para tirar famílias de área de risco. Mas, erguido próximo à encosta de um morro às margens da BR-116, já teve 14 das 98 moradias desocupadas. Segundo a prefeitura, as casas foram condenadas pela Defesa Civil em dezembro do ano passado, e oito famílias recebem auxílio-aluguel de R$ 300.

Pequenos produtores de Juazeiro, na Bahia, pensaram ter realizado o sonho de ter um campo de irrigação, ao serem entregues por Lula e Dilma 56 lotes do Projeto Salitre, em março do ano passado. Mas, segundo o vereador Alex Tanuri (PSDB), apenas 26 dos lotes estão funcionando. “A população ficou feliz com as promessas. Agora, está revoltada. Além da entrega pela metade, a segunda parte do projeto, que entregaria mais lotes, não avança”. diz. A prefeitura preferiu não comentar o assunto.

Asfalto inacabado

Sem a companhia do então presidente Lula, Dilma inaugurou trecho da BR-319, entre Humaitá (AM) e Porto Velho (RO). O asfalto, no entanto, estava inacabado. Foram 38 quilômetros, mas apenas oito tinham duas camadas de asfalto. “A BR-319 está horrível. As obras estão constantemente atrasadas e o governo federal sempre alega problemas com licenciamento ambiental. Existe uma falta de vontade política”, afirma o deputado estadual Sidney Leite (DEM-AM).

Na lista das obras anunciadas e não executadas, a revitalização do Rio Jordão e o revestimento do canal no bairro de mesmo nome, em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, ainda nem começaram. Segundo o líder dos moradores que foram retirados para o início das obras, José Mário de Oliveira, Lula anunciou as obras em março de 2008, quando Dilma já era apontada como pré-candidata. “Ele anunciou R$ 130 milhões. Muita gente votou em Dilma para continuar a obra. Mas parece que foi promessa de campanha. Se ele disse que deu o dinheiro, onde ele está? Queremos saber.”