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Estado de Minas

"Sem Lula, PT se fragmenta", afirma Sarney


postado em 08/07/2011 06:00 / atualizado em 08/07/2011 08:01


"Tenho absoluta incapacidade de ter ódio. Nunca tive inimigos. Nunca considerei as pessoas como adversárias. Não há um gesto meu, nem que eu tenha sido acusado, de ter erguido uma estátua à vingança" (foto: Paulo de Araújo/CB/D.A Press)
Brasília – Do alto de quem atua diretamente na política brasileira desde o último governo de Getúlio Vargas, o presidente do Senado, José Sarney, (PMDB-AP) aos 81 anos, se mostra sereno para falar dos amigos, dos adversários políticos, do passado e dos momentos da história em que teve importante participação. Nesta entrevista ao Estado de Minas, diz que é incapaz de ter ódio, embora tenha sido submetido a períodos de injustiças e de crueldade, como no caso das denúncias de atos secretos e privilégios no Senado em 2009. Ele fala também sobre o PMDB, enfatizando que é o partido da estabilidade nacional. Já o PT, para ele, só não se fragmenta porque tem a figura do ex-presidente Lula.

Como é estar sempre no topo do poder?
JOSÉ SARNEY –
Sempre estive apanhando. Quando era estudante fui preso pela ditadura Vargas. Eu fui contra o Getúlio, depois procurei dentro da UDN ser de um grupo renovador. Eu também combati o Juscelino e até hoje me arrependo. Na época, era vice-líder da UDN, vice-líder do Carlos Lacerda, estava na linha de frente do combate ao Juscelino. Eu era muito jovem. Fui contra o João Goulart. Tive tempo de oposição, eu tive tempo de luta dura. Não é esse mar de rosas que todo mundo pode pensar que é. O que significa estar no topo? Significa que você está exposto e disposto à luta.

Qual foi o período mais cruel da política para o senhor?
JS –
Muitas vezes eu fui submetido a um período de injustiças muito grande. E de crueldade. São feridas que não cicatrizam. E que a política deixa na gente. Foi com grande amargura que eu atravessei aquele período no Senado (com as denúncias de atos secretos e privilégios na Casa ao longo de 2009) e acho que foi uma das coisas mais injustas que vivi. Um pastel de vento que fizeram exclusivamente por motivos da guerra política de liquidar a pessoa que é tida como adversária. Eu serei sincero em dizer que não cicatrizou.

Sarney guarda ódio na geladeira?
JS –
Tenho absoluta incapacidade de ter ódio. Nunca tive inimigos. Nunca considerei as pessoas como adversárias. Não há um gesto meu, nem que eu tenha sido acusado, de ter erguido uma estátua à vingança. O ressentimento é contra a própria pessoa, porque ele cresce e a pessoa vive infeliz.

O apoio ao Lula foi oportunismo?
JS –
Eu apoiei o Lula porque achava que era um avanço para o país. E fiquei feliz de mesmo mais velho ter a oportunidade de ver essa transformação por que o Brasil passou, de ver um operário na Presidência. E nós chegamos aos 100 anos com um operário no poder. Não podia deixar de dar uma ajuda. E acho que fui fundamental naquele problema da eleição do Lula. Ele disse que duas coisas foram muito importantes para ele durante o período eleitoral: Alencar ter sido aceito como vice-presidente e o meu apoio, que eu tinha dado abertamente.

Hoje, há algum risco de o PMDB virar um apêndice do PT, assim como o PFL foi um apêndice do PSDB?
JS –
Dentro do sistema atual, na realidade atual, o PMDB é o maior partido do país. PT está no governo e tem os instrumentos de governo, mas o PMDB é o partido da estabilidade nacional porque ele não tem líderes. Ele não tem nenhum líder messiânico. Se tirar o Lula do PT, o partido se fragmenta, até porque é uma confederação de tendências.

Não se arrepende de ter apoiado a ditadura?
JS –
Eu fui o único governador que protestei contra o AI-5, protestei não, não apoiei. O único governador do Brasil. Cinco dias depois da revolução, todo mundo desertou com medo, eu fui para a tribuna e disse que ninguém cassaria mandato se não fosse da forma que as leis e a Constituição do país estabeleciam. E dentro do período militar, eu nunca fui confortavelmente aceito pelos militares.

Acha que a história será generosa com o senhor?
JS – Eu acho que sim, porque quando desaparecem as paixões, o que vai aparecer é o homem que sempre, nos momentos decisivos, optou por melhorar o país. Foi assim quando renunciei à Presidência do PDS, quando ajudei a transição democrática. Só posso esperar que o julgamento da história seja verdadeiro.

O senhor pensa em se aposentar?
JS –
A gente não tem domínio sobre o corpo, então eu tenho que ser realista. Eu tenho de ter a noção de que já estou na parte final. Ninguém pensa que pode ser imortal. Só os da Academia Brasileira de Letras. Mas este será meu último mandato. Não mais concorrerei a uma eleição.

Por que é a favor do sigilo dos documentos?
JS –
Daqui a 50 anos até a palavra sigilo já desapareceu. O que eu apoiei desde o princípio foi o projeto que veio para o Congresso. E esse projeto diz que os documentos históricos podem ter uma prorrogação de 25 anos mais 25. Isso foi feito pelo projeto do Fernando Henrique Cardoso. É uma lei dele.

Ele, Fernando Henrique, disse que assinou mas não leu.
JS –
É até capaz que ele me convença dos argumentos. Por que precisa de um sigilo? Eu não estou dizendo que precisa de um sigilo. Há certos documentos de natureza histórica que devem ser preservados, o país, a Constituição é quem manda. Não sou eu quem estou dizendo. Pelo projeto, tem uma comissão que sabe quais os documentos devem ter o sigilo, não eu. Os Estados Unidos até hoje liberam os documentos, mas eles têm uma tarja sobre as partes sensíveis que podem atingir o direito individual.

Dilma fez bem em afastar o Palocci? Resolveu?
JS –
No caso de Palocci, foi uma crise contingente e ela demonstrou que está apta a gerir crises. Ela geriu a crise e asuperou. Agora, governo sempre tem problema.

Que conselho o senhor daria a Dilma?
JS –
Para presidente da República não se dá conselho porque o presidente tem uma visão muito maior do que de todos nós. E conselho e água benta só se dá a quem pede. Ela nunca me pediu.

O senhor entretanto é um aliado importante. Não é consultado nunca?
JS –
Quando sou consultado dou a minha opinião, não dou conselho.

É verdade que o senhor, durante o velório de Itamar Franco, colocou um bottom do Senado no terno dele?
JS –
Eu não uso o bottom. Estava o senador Magno Malta, que tirou o bottom e eu disse: "Ele (Itamar) tem que ir com o bottom". Itamar gostava do Senado. Sempre teve um grande amor por esta Casa. Desde que aqui chegou, como senador, ele aqui fez nome, trabalhou. E nós moramos 12 anos na mesma prumada. Fomos bons vizinhos.

Mas a relação de vocês não foi sempre assim. Não foi contra o seu governo que ele tentou fazer a CPI da Corrupção? Vocês superaram as diferenças?
JS –
Os jornais criaram esse nome, CPI da Corrupção, mas tratava-se sobre as irregularidades administrativas que teriam sido feitas naquele tempo. De minha parte, terminou apenas que eu tinha aumentado o funcionalismo militar e civil sem cobertura orçamentária quando na realidade era o próprio Congresso quem tinha votado os créditos extraordinários. Naquela época, o Itamar não foi agressivo, nunca o foi com a minha pessoa.

O senhor acha que agora se fez justiça, o país reconheceu Itamar?
JS –
Foi muito bom para ele os quatro meses daqui, porque ele voltou ao Senado e, ao mesmo tempo estava ressentido porque, muitas das coisas que ele fez, ele foi expropriado delas. Aqui, ele teve a oportunidade de ser muito vigilante, com os oradores e tudo mais, em relação ãs coisas que ele tinha realizado como presidente da República. Isso fez com que resgatasse essas coisas.

Seus inimigos são implacáveis?
JS –
São, mas tenho que aceitar que faz parte do meu ofício. A política passou a ser uma guerra, o pessoal quer exterminar. Quando os inimigos atacam os filhos, o ataque aos filhos é pior do que os ataques contra você mesmo.

O senhor se refere aos ataques contra Roseana, em 2002, quando ela ensaiou candidatura à Presidência?
JS –
Isso foi uma injustiça que fizeram com ela, uma armação tremenda, para não dizer uma crueldade.

O senhor fez as pazes com José Serra? Na festa de Fernando Henrique o senhor se sentou ao lado de Serra e ficou com os braços cruzados, em sinal de desconforto…
JS –
Não tenho ódio das pessoas… Não reparei… Mas o corpo da gente deve ter algumas expressões, sim.


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