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Estado de Minas

Bomba na Câmara de Vereadores do RJ durante ditadura tem nova versão


postado em 19/04/2011 06:00 / atualizado em 19/04/2011 06:14

Brasília – Integrantes do serviço secreto de informações da ditadura duvidavam que a bomba que explodiu na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, em 27 de agosto de 1980, fosse o resultado de um atentado. Um informe que circulou entre os órgãos de inteligência do governo da época, cinco dias depois do fato, avalia que o artefato poderia ter sido detonado no momento em que estava sendo fabricado. A explosão ocorreu dentro do gabinete do vereador Antônio Carlos de Carvalho, considerado um militante do MR-8, um dos movimentos de esquerda que atuavam contra o regime militar.

O informe foi produzido pela agência do Serviço Nacional de Informações (SNI) no Rio e indicava uma pessoa idônea como fonte dos dados coletados pelos arapongas. “O artefato que detonou na Câmara de Vereadores do Rio pode ter explodido enquanto estava sendo montado”, relata o documento. O relatório lista uma série de motivos que seriam indicadores de que a bomba havia sido detonada na fase de fabricação. “Esta sala é permanentemente fechada a chave, tem acesso controlado e normalmente as atividades em seu interior ocorrem após o expediente”, detalha o informe.

A bomba chegou ao gabinete de Antônio Carlos – que também era conhecido por Tonico – em um embrulho ao lado do restante da correspondência diária. O pacote foi recebido por José Ribamar de Freitas, assessor e tio do político. O homem morreu no local e Tonico teve o braço esquerdo amputado, assim como os dedos da mão direita. O vereador perdeu todos os dentes e 80% da audição, mas continuou na militância política até 1982. Morreu 11 anos depois de deixar a Câmara. No mesmo dia do fato ocorrido no Legislativo, outra bomba foi enviada à sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio e matou Lydia Monteiro da Silva, secretária da instituição.

Segundo avaliação dos arapongas do SNI, a mesa de trabalho de Tonico apresentava um rombo, no qual as farpas e arestas indicavam que o sentido da detonação teria sido de cima para baixo e da esquerda para a direita. “Pelo exposto, o artefato explodiu enquanto era manuseado, surgindo duas hipóteses: ou ele estava abrindo o engenho ou o estava montando”, observa o informe, ressaltando que o vereador tinhas várias passagens pelos órgãos de segurança por sua militância política. O documento integra o acervo entregue ao Arquivo Nacional pelo Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) e aberto ao público na semana passada.

Para sustentar a teoria de que a bomba teria sido montada no gabinete de Tonico, o SNI ainda levantou elementos que poderiam ajudar a incriminar o vereador, como o fato de o artefato ter explodido na sua sala. “A dependência onde a bomba explodiu é destinada a funcionar a comissão de abastecimento da qual é presidente o vereador Antônio Carlos de Carvalho (militante do MR-8)”, diz parte do informe, completando: “Nesse local eram redigidos e impressos os folhetos e panfletos de propaganda e contestações idealizados pelo vereador”.

Tensão

O Brasil vivia um momento político tenso em 1980. Com a força minada, a ditadura caminhava para o fim, mas correntes mais radicais ligadas aos militares defendiam a continuidade do regime, assim como grupos de esquerda mais extremistas ainda defendiam o combate direto aos militares. Vários atentados à bomba ocorreram no mesmo período e no ano seguinte. Também no Rio, uma sala do jornal Tribuna da Luta Operária foi alvo de um artefato, mas sem fazer vítimas. Vários veículos de comunicação receberam ameaças. O então ministro da Justiça, Ibrahim Abi Ackel, considerou os atentados como crime contra a segurança nacional e a ordem política e social e determinou a entrada da Polícia Federal no caso.


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