Reeleito em outubro para seu sexto mandato de deputado federal e com um presidente que reza em sua cartilha, Valdemar continua dando as cartas no partido e comandando os deputados. O novo líder do PR, Lincoln Portela (MG) costuma se referir ao colega paulista como “um gênio da política”. Outros se referem a ele como um sobrevivente — alguém que, em meio ao lamaçal que ficou conhecido como “escândalo do mensalão”, conseguiu trafegar pelo pântano sem ficar fora do Congresso muito tempo. E continuar no comando de uma legenda que, em 2010, amealhou R$ 7,8 milhões de fundo partidário, segundo os dados constantes no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Entre os deputados envolvidos no mensalão, Valdemar foi o primeiro a renunciar ao mandato, em agosto de 2005. Diferentemente de outros que renunciaram para escapar de um processo de cassação, ele teve sorte. Como saiu de cena antes da abertura de processo, a Justiça considerou que poderia cumprir o mandato de deputado que conquistou em 2010.
Na ativa
O fato de Valdemar Costa Neto continuar "na ativa", como dizem os políticos, vai além da sorte. Seus colegas dizem que ele sabe "surfar", ou seja, pegar a onda, seguir com ela, ou ficar recolhido, esperando a hora de aparecer. Conquistou a liderança do PL logo no seu primeiro ano de mandato, 1991. Depois, com a morte de Álvaro Valle, virou presidente do partido, cargo que ocupou até 2005, quando foi abalroado pelo escândalo do mensalão.
Valdemar começou sua carreira política como secretário de Viação e Obras de Mogi das Cruzes, onde o pai foi prefeito quatro vezes. Depois seguiu para a Cia. de Desenvolvimento do município. Em 1985, foi para as docas de São Paulo, de onde saiu em 1990 para ser candidato a deputado federal pelo PL.
Passou a conviver mais com o PT no governo Fernando Henrique Cardoso, tempo em que trafegou pela oposição depois de perder o comando da Receita Federal no aeroporto de Cumbica. A parceria tornou-se um consórcio a partir de 2002, quando o então senador José Alencar virou vice na chapa de Lula. O casamento feliz, entretanto, acabou quando surgiu o escândalo do mensalão.
Uma das poucas vezes em que deixou o gabinete foi para seguir até a Granja do Torto, onde participou da reunião com a presidente Dilma Rousseff para avalizar o retorno de Alfredo Nascimento ao Ministério dos Transportes. Há um mês voltou ao Palácio do Planalto, onde não pisava desde 2005, para avisar ao ministro Antonio Palocci que o partido estava fechado com a candidatura de Marco Maia à Presidência da Câmara. Comprometeu-se inclusive a retirar a candidatura de Sandro Mabel (PR-GO). Mabel resistiu e agora responde a um processo que pode resultar na sua expulsão do partido.
Aos amigos, tem dito que “falar demais atrapalha”. Por isso, fechou-se para o rol das celebridades. Age apenas nos bastidores. Foi inclusive um dos padrinhos da candidatura de Tiririca a deputado federal no ano passado. E, graças aos 6,4% dos votos válidos que Tiririca ajudou o PR a conquistar em São Paulo, o partido ganhará mais R$ 2,7 milhões anuais de fundo partidário — dinheiro que, assim como as ações do PR, continuam sob a batuta de Valdemar Costa Neto.