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Estado de Minas

Pesquisas feitas agora

As pesquisas de agora querem dizer tão pouco quanto as que foram feitas, à mesma distância, em eleições parecidas, em que o processo político estava aberto, sem candidaturas óbvias e naturais


postado em 10/12/2008 10:10 / atualizado em 08/01/2010 03:57

A nova pesquisa Datafolha sobre as eleições presidenciais de 2010 mostra que o quadro da sucessão de Lula não foi alterado pelas eleições municipais recém transcorridas. Pelo que se lê em alguns veículos de imprensa, onde predomina uma torcida nem sempre discreta pela candidatura de José Serra, parece que não é isso que ela diz. Mas é.

Em qualquer cenário, seja os que têm o governador de São Paulo como opção do PSDB, seja aqueles onde está o nome de Aécio, é difícil dizer que tenha havido crescimento de um dos dois, entre março deste ano, quando foi feita a pesquisa anterior do instituto, e agora. Cotejando-as, o fenômeno mais real que temos é uma queda de Ciro Gomes, de até 6% (conforme as opções de candidatos), por razões que pouco têm a ver com eles.

Ciro teve pouca presença nas eleições deste ano e está sendo comparado a dois políticos que delas participaram intensamente. Serra e Aécio governam estados onde vive mais que um terço do eleitorado brasileiro e estão saindo de eleições muito disputadas nas duas capitais. Foram, além disso, o foco de centenas de campanhas no interior, onde os alinhamentos fundamentais se deram, como sempre se dão, em torno de quem está à frente do executivo estadual. Ambos, por exemplo, foram protagonistas importantes das disputas pela televisão nas cidades médias, aparecendo, às vezes, quase tanto quanto o candidato local.

Isso para não falar das muitas viagens que fizeram Brasil afora, para apoiar candidatos do PSDB ou de partidos próximos, indo a comícios, carreatas, debates e eventos que, mais tarde, chegaram à TV. Em cada uma, seus correligionários podem ter ganhado alguns pontos, mas os dois também lucraram.

Enquanto isso, Ciro ficou “sumido”, como costumam dizer os entrevistados em pesquisas qualitativas quando pensam em políticos a respeito dos quais pouco ouvem falar. Nem em Fortaleza seu empenho chegou a ser máximo, ainda que sua ex-mulher estivesse no páreo. Em outras cidades onde apoiou candidatos, foi apenas um coadjuvante.

O saldo disso é que tanto Serra, quanto Aécio melhoraram seu desempenho em alguma coisa, crescendo dois ou três pontos em relação à pesquisa de março. A rigor, no entanto, ficaram praticamente estáveis, considerando as margens de erro.

Pensando bem, é muito pouco, se levarmos em conta o que se passou com eles do começo do ano para cá. Depois de uma movimentação tão intensa, depois de horas e horas de televisão, dando entrevistas, aparecendo em programas eleitorais e inserções, contabilizadas suas vitórias, crescer apenas três pontos chega a ser uma decepção.

O teste do pouco significado do que se passou em outubro é dado pelos números de Heloísa Helena. Entre as duas pesquisas, a ex-senadora e possível candidata pelo PSOL não mudou nem um ponto, permanecendo com 14%. Ela, que mal apareceu nas campanhas deste ano, pois brigava pela eleição a vereadora em Maceió, resistiu melhor que Ciro Gomes, o que sugere que seus simpatizantes formam uma base menos propensa a se deslocar para o PSDB e mais sólida. Pelo menos, enquanto outra candidatura à esquerda não surgir.

E Dilma? Em termos relativos, foi quem mais cresceu, aliás, a taxas espetaculares, pois saltou de 3% para 8%, quase triplicando suas intenções de voto. Ainda assim, seu crescimento absoluto continua modesto, provindo, ao que parece, também da redução da candidatura de Ciro. Este, como candidato algo “híbrido”, pelo passado tucano e o presente ao lado de Lula, pode distribuir votos à esquerda e à direita.

Dilma cresceu, Ciro caiu, Heloísa Helena ficou no mesmo lugar, Serra subiu três pontos, Aécio dois, sem que se possa dizer que qualquer uma dessas coisas decorra das eleições municipais que fizemos. Elas permitiram, apenas, que aumentasse a visibilidade de alguns, aqueles que se envolveram diretamente nas disputas. Nada, porém, além disso.

As eleições de 2010 ainda estão muito longe para o cidadão comum. As pesquisas de agora querem dizer tão pouco quanto as que foram feitas, à mesma distância, em eleições parecidas, onde o processo político estava aberto, sem candidaturas óbvias e naturais. Por exemplo, sem Lula e sem alguém disputando sua reeleição.

Marcos Coimbra é sociólogo e cientista político


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