Além disso, Lacerda é um dos homens que mais conhece os bastidores do governo. É um banco de dados sobre assuntos potencialmente comprometedores. O Planalto não quer vê-lo no olho de um furacão político.
O inquérito mais próximo de citar o diretor da Abin é o que investiga o vazamento de informações sobre a Satiagraha. Relatórios feitos pela Corregedoria-Geral da PF em Brasília confirmam que os arapongas a serviço de Protógenes tiveram acesso a elementos da investigação, inclusive ao Guardião, o equipamento de escutas e rastreamentos telefônicos.
O indiciamento de Lacerda é pouco provável, já que não há indicações de que tenha envolvimento na divulgação das escutas e esse inquérito é específico. Mas a simples menção de que ele teria cometido usurpação de função pode ser suficiente para impedir que ele retorne ao comando da Abin.
Lula disse a interlocutores próximos que não pretende tomar nenhuma decisão a respeito do destino de Lacerda antes da conclusão dos inquéritos da PF. Ele está dividido. De um lado, diz ter uma dívida de gratidão com o delegado, pelos serviços prestados no primeiro mandato. De outro, ficou muito irritado ao saber que ele autorizou, sem informar ao Planalto, o envolvimento de arapongas numa ação da PF.
Lacerda nunca negou que tenha autorizado a participação dos agentes de inteligência na Operação Satiagraha, por solicitação de Protógenes. Investigadores que atuam no inquérito sobre o vazamento dizem que 72 arapongas de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Distrito Federal teriam sido utilizados na ação policial, mas admitem que este número pode chegar a 100, contando as diversas fases da operação, enquanto que o total de policiais federais não passou de 24.
O ministro da Justiça, Tarso Genro, atendeu pedido do general Jorge Félix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e comandante da Abin. O despacho, acordado entre os dois, diz que a PF só vai abrir os documentos apreendidos em escritórios da Abin na presença de agentes designados pelo órgão de inteligência. A apreensão, feita no bojo do inquérito sobre os abusos na Satiagraha, detonou uma crise. Os arapongas reclamam que no material apreendido há informações secretas, inclusive com a identificação de agentes.