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Estado de Minas

Macaco Tião e as abstenções


postado em 03/11/2008 07:54 / atualizado em 08/01/2010 04:06

Ao longo da história da democracia brasileira, votar nulo sempre foi um sinônimo de protesto, descrença e insatisfação com a política e seus representantes. Nas antigas cédulas de votação, todas de papel, que levavam dias para serem contabilizadas, apareciam riscos, rabiscos, palavras impublicáveis e deboches dos mais variados.

Há 20 anos, um deles entrou para o folclore da política brasileira. Na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro, um macaco, nascido e criado no zoológico da cidade, foi um dos candidatos mais bem votados na disputa pelo comando da capital fluminense. Macaco Tião, do alto de seus bem vividos 25 anos, um senhor de idade levando-se em conta a média de vida dos primatas, teve nada menos do que cerca de 400 mil votos, o que na época representava quase 10% do eleitorado.

A candidatura do macaco foi lançada por uma revista de humor, como forma de protesto contra os verdadeiros postulantes ao cargo de prefeito. Apesar da boa colocação, ele perdeu a eleição para o então pedetista Marcelo Alencar, hoje filiado ao PSDB, eleito com o apoio do então governador Leonel Brizola, mas entrou para a história da política carioca e nacional. Sua morte foi destaque em todo o Brasil e ele acabou virando nome de praça, alameda, com direito a luto oficial e placa de bronze em comemoração à sua passagem pela Terra.

Por coincidência, Tião morreu em 1996, ano em que o país começou a substituir o voto de papel pelo eletrônico. Nessa data, todas as capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores votaram por meio eletrônico. Quatro anos depois, nas eleições municipais de 2000, a urna eletrônica passou a ser usada em todas as cidades brasileiras, impedindo a votação em candidatos de ficção ou de protesto.

Urna eletrônica


O advento da urna eletrônica tirou a graça do caráter de protesto do voto nulo. Não é possível mais medir por meio desse tipo de sufrágio o grau de insatisfação do eleitor. A informatização também levou a uma redução dos índices de votos nulos. Mas, em contrapartida, a cada ano as abstenções crescem em todo o país. A ausência do eleitor é um não-voto. Quando ele tem o trabalho de ir até a sua seção eleitoral para digitar um número inexistente ou apertar a tecla em branco, está manifestando de alguma forma sua insatisfação com os postulantes a um dos cargos eletivos ou com o cenário político em geral, cada vez mais alvo de descrédito da população.

Não é sem motivo que o maior número de votos nulos e brancos é dado a candidatos a vereador, pois em todos os níveis da federação os legislativos são o maior alvo de descrédito da população. Já a ausência é um sinal de que o eleitor se absteve de dar palpite na escolha dos seus dirigentes, de que para ele o processo eleitoral é indiferente, como se essa escolha não tivesse nenhuma importância para seu destino.

Número de ausentes

E foi isso que aconteceu nas eleições municipais deste ano. Os índices de abstenção em todo o país foram considerados altos pelo Tribunal Superior Eleitoral. E superaram a média registrada nos últimos anos de ausência do eleitorado. Cerca de 18% do eleitorado deixou de ir às urnas no segundo turno das eleições, o que representa em termos numéricos 4,8 milhões de brasileiros. Em algumas capitais, o índice de ausência ultrapassou 20% do eleitorado.

A cidade recordista de abstenção foi São Luís, capital do Maranhão. Coincidentemente, a segunda colocada nesse ranking é a terra do Macaco Tião. No Rio de Janeiro, 20,25% do eleitorado não compareceram. Muitos aproveitaram o feriadão prolongado em comemoração ao Dia do Servidor Público para pegar uma praia. A conseqüência disso foi a eleição de Eduardo Paes (PMDB) com uma diferença de 400 mil votos para Fernando Gabeira (PV) e muitos lamentos no dia seguinte.

Belo Horizonte e São Paulo também não ficaram atrás na lista de maiores abstenções do país. A capital mineira e a paulista registraram 17,78% e 17,54% de ausência. No caso de Belo Horizonte, foi a maior votação negativa registrada na história da cidade desde as eleições de Patrus Ananias (PT), hoje ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Do 1,7 milhão de eleitores belo-horizontinos, 474 mil não votaram ou votaram branco e nulo no segundo turno da disputa.


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