A candidatura do macaco foi lançada por uma revista de humor, como forma de protesto contra os verdadeiros postulantes ao cargo de prefeito. Apesar da boa colocação, ele perdeu a eleição para o então pedetista Marcelo Alencar, hoje filiado ao PSDB, eleito com o apoio do então governador Leonel Brizola, mas entrou para a história da política carioca e nacional. Sua morte foi destaque em todo o Brasil e ele acabou virando nome de praça, alameda, com direito a luto oficial e placa de bronze em comemoração à sua passagem pela Terra.
Por coincidência, Tião morreu em 1996, ano em que o país começou a substituir o voto de papel pelo eletrônico. Nessa data, todas as capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores votaram por meio eletrônico. Quatro anos depois, nas eleições municipais de 2000, a urna eletrônica passou a ser usada em todas as cidades brasileiras, impedindo a votação em candidatos de ficção ou de protesto.
Urna eletrônica
O advento da urna eletrônica tirou a graça do caráter de protesto do voto nulo. Não é possível mais medir por meio desse tipo de sufrágio o grau de insatisfação do eleitor. A informatização também levou a uma redução dos índices de votos nulos. Mas, em contrapartida, a cada ano as abstenções crescem em todo o país. A ausência do eleitor é um não-voto. Quando ele tem o trabalho de ir até a sua seção eleitoral para digitar um número inexistente ou apertar a tecla em branco, está manifestando de alguma forma sua insatisfação com os postulantes a um dos cargos eletivos ou com o cenário político em geral, cada vez mais alvo de descrédito da população.
Não é sem motivo que o maior número de votos nulos e brancos é dado a candidatos a vereador, pois em todos os níveis da federação os legislativos são o maior alvo de descrédito da população. Já a ausência é um sinal de que o eleitor se absteve de dar palpite na escolha dos seus dirigentes, de que para ele o processo eleitoral é indiferente, como se essa escolha não tivesse nenhuma importância para seu destino.
Número de ausentes
E foi isso que aconteceu nas eleições municipais deste ano. Os índices de abstenção em todo o país foram considerados altos pelo Tribunal Superior Eleitoral. E superaram a média registrada nos últimos anos de ausência do eleitorado. Cerca de 18% do eleitorado deixou de ir às urnas no segundo turno das eleições, o que representa em termos numéricos 4,8 milhões de brasileiros. Em algumas capitais, o índice de ausência ultrapassou 20% do eleitorado.
A cidade recordista de abstenção foi São Luís, capital do Maranhão. Coincidentemente, a segunda colocada nesse ranking é a terra do Macaco Tião. No Rio de Janeiro, 20,25% do eleitorado não compareceram. Muitos aproveitaram o feriadão prolongado em comemoração ao Dia do Servidor Público para pegar uma praia. A conseqüência disso foi a eleição de Eduardo Paes (PMDB) com uma diferença de 400 mil votos para Fernando Gabeira (PV) e muitos lamentos no dia seguinte.
Belo Horizonte e São Paulo também não ficaram atrás na lista de maiores abstenções do país. A capital mineira e a paulista registraram 17,78% e 17,54% de ausência. No caso de Belo Horizonte, foi a maior votação negativa registrada na história da cidade desde as eleições de Patrus Ananias (PT), hoje ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Do 1,7 milhão de eleitores belo-horizontinos, 474 mil não votaram ou votaram branco e nulo no segundo turno da disputa.