Sentir medo faz parte da condição humana. O mal pode ser percebido por meio de detalhes, como se observa nos contos de “Inventário de predadores domésticos”, de Verena Cavalcante, primeiro livro da escritora pela Darkside Books, especializada em publicações de terror. É verdade que existem muitas maldades explícitas, mas as situações cotidianas de espanto e horror povoam nas trivialidades na maioria das 26 narrativas presentes na obra. Como no conto “Ralo”, sobre a tia que está na casa de repouso e durante a visita das duas parentes tem uma atitude, no mínimo, repugnante. Ou a menina Dorotéia e o seu preconceito enraizado com os pobres e pessoas negras.
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Em “Inventário de predadores domésticos”, Verena cria várias situações de relacionamentos abusivos, em que os narradores são vítimas, mas também algozes, em cenários hostis, encharcados de sangue, a exemplo do conto “Açúcar vermelho”, o relato de uma ex-escravizada que se junta a uma seita para se vingar, por meio de magia, dos brancos senhores de engenho.
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