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Estado de Minas

"As crianças entendem mais do que sabemos"

Em entrevista, o poeta canadense Jordan Scott conta como escreveu o primeiro livro infantil a partir de sua experiência pessoal com a gagueira na infância


14/01/2022 04:00

Inspirado em uma história real, o poeta Jordan Scott e o ilustrador Sydney Smith criaram o livro infantil “Eu falo como um rio”. Lançado no Brasil pela editora Pequena Zahar, o livro dos canadenses recebeu os prêmios Family Book Award e Boston Globe-Horn Book Award, e, em 2020, foi incluído na lista dos infantis mais vendidos do ano de diversos jornais e revistas, como New York Times, People, NPR, entre vários outros. Ganhador de prêmios importantes com seus poemas, Scott utilizou a experiência pessoal para escrever “Eu falo como um rio”. Diagnosticado na infância com gagueira, Jordan revela que cresceu sob o medo da rejeição. Ele enxerga o seu primeiro livro ilustrado, indicado para crianças a partir de 6 anos, como um “desejo de explorar a gagueira poeticamente”. As ilustrações são assinadas por Sydney Smith, que tem o segundo livro lançado no Brasil pelo grupo Companhia das Letras – o primeiro, “De flor em flor”, saiu em 2017.  A seguir, uma entrevista com Jordan Scott:
 
Em primeiro lugar, gostaria que você contasse como a criança de “Eu falo como um rio” se conecta com a criança que você era.
Estou muito ligado à criança no livro. Quando escrevi a história, passei muito tempo lembrando daqueles “dias ruins de discurso” e aqueles dias com meu pai ao longo do rio. O livro está profundamente interconectado com minha infância. 

Embora o livro seja muito particular, porque trata de uma questão específica como gagueira, também é bastante universal. Acho que é porque toda criança (e cada ser humano, na verdade) em algum momento já tem que lidar com a sensação de não se encaixar nos padrões impostos de normalidade. Como você vê essa relação entre o subjetivo e o universal no livro?
 Acho que fluência é ficção. Todos falamos de maneiras únicas porque nossos corpos são diferentes. A gagueira chama a atenção para o ato físico de falar e atinge o coração da diferença. Todos somos atraídos pela gagueira porque – de certa forma – contém multidões. Na gagueira vemos nossos fracassos, nossas próprias lutas e triunfos. Estou chocado com o imenso alcance deste livro. Sempre pensei na gagueira como tão pessoal e íntima, mas ouvi de tantas pessoas que não gaguejam que este livro também valida sua experiência. Eu acho que isso é tremendamente bonito e algo que eu não antecipei.  

“Eu falo como um rio” se encaixa no que podemos chamar de “ficção crossover”, porque cativa adultos e crianças de todas as idades. Qual é a sua opinião sobre categorizar livros de acordo com a classificação etária e o alvo? Você pensa no destinatário quando você vai criar uma história?
 Quando escrevo histórias para crianças, me imagino como uma criança e tento acessar esse lugar misterioso de curiosidade e admiração. No entanto, necessariamente eu não escrevo para crianças no sentido clichê. É difícil articular, mas confio nas crianças, e acho que elas entendem mais do que sabemos. Eu nunca quero “falar baixo” para uma criança ou vê-los sentir que eu estou falando com eles "como uma criança". Quero escrever histórias que desafiem e inspirem. Honestamente, eu só quero escrever lindas histórias.   

Livros como este, que têm temas sensíveis e delicados, exigem mais atenção das famílias e professores durante a leitura da mediação com as crianças. E isso muitas vezes pode afastar leitores que não sabem como fazer isso. Quão importantes são esses “temas difíceis” na infância?
Se eu fiz meu trabalho, e espero que sim, os pais podem simplesmente compartilhar o momento com seus filhos.

Você tem feedback das crianças? Como tem sido a recepção delas a essa história?
A recepção tem sido incrível. Como escritor canadense, ter este livro traduzido para 18  línguas é uma das maiores alegrias da minha vida. Ainda é difícil para mim entender completamente o alcance e o impacto deste livro. Um dos meus momentos favoritos até agora foi ler para um grupo de crianças que gaguejam. Após a leitura,uma jovem me disse que ela se vê neste livro e que isso “a faz se sentir melhor sobre sua gagueira”. Ela então me disse que ela “fala como o vento.” Meu coração se encheu de alegria. 
 
  • “Eu falo como um rio”
  • Textos de Jordan Scott. Ilustrações de Sydney Smith.
  • Pequena Zahar
  • 40 páginas
  • R$ 54,90 


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