Jornal Estado de Minas

Livro sobre a Amazônia desnuda ineficiência do modelo de exploração agropecuária para acabar com a miséria

Numa tentativa de suprir a indigente base informacional que a sociedade e principalmente os formuladores de políticas públicas e pessoas ligadas aos organismos de tomada de  decisões, como magistrados, têm sobre a Amazônia, Ricardo Abramovay, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP),  lança nesta quarta-feira, em Belo Horizonte, o livro Amazônia: por uma economia do conhecimento da natureza (Editora Elefante). Ele participará do programa Sempre um Papo, mediado pelo jornalista Afonso Borges, às 19h30, na sala Juvenal Dias do Palácio das Artes. A entrada é gratuita.




“Há muito preconceito contra a Amazônia. O principal deles traduz-se na errônea ideia de que  a condição básica para que a miséria seja combatida na Amazônia seja aprofundar o modelo de crescimento econômico que hoje vigora na região”, afirma ele, em referência ao modelo apoiado no avanço da pecuária, na produção de grãos, principalmente soja, e na mineração. “Procurei mostrar que esse modelo de desenvolvimento econômico tem dado resultados insatisfatórios, não só do ponto de vista da população, mas também, se de fato tal modelo fosse aceitável para lutar contra a pobreza e a miséria, a Amazônia não estaria hoje situada no topo da linha de miséria do Brasil”, diz ele.




Ricardo Abramovay apresenta dados empíricos para contestar, não apenas a visão de que o crescimento econômico na Amazônia supõe a substituição de áreas florestais por atividades agropecuárias tradicionais, mas, sobretudo, mostra também que a destruição florestal, além de privar o Brasil e o mundo de serviços ecossistêmicos indispensáveis à própria vida, apoia-se em atividades ilegais e, com muita frequência, no banditismo.


“As consequências do avanço do desmatamento são desastrosas para a economia da Amazônia e para a própria democracia brasileira”, diz ele, considerando que em vez dos laços de confiança que poderiam emergir como resultado da exploração sustentável da floresta em pé, o atual modelo de ocupação da Amazônia fortalece a criminalidade e dissemina a insegurança por toda a região. Para Ricardo Abramovay, o Brasil tem oportunidade única, no mundo, de se tornar relevante explorando a economia do conhecimento da biodiversidade.

 

“Hoje a indústria farmacêutica no Brasil é de genéricos e, no entanto, o lugar no mundo em que há uma verdadeira Biblioteca de Alexandria da biodiversidade, não tem leitores. Destruir a floresta é destruir potencial de inovação tecnológica e de geração de renda extraordinário”, afirmou ele, defendendo a economia da floresta em pé como grande aposta para trazer desenvolvimento humano às populações da Amazônia.