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FILOSOFIA NO DIVÃ

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A morte costuma ser um tabu entre as pessoas. Afinal, ela significa a interrupção definitiva da vida. O fim da vida humana. A sabedoria popular diz: “Para morrer, basta estar vivo”, mas qual seria a sua reação se soubesse quando vai morrer?. Reataria com aquele tio que não votou em seu candidato preferido? Perdoaria uma traição? Deixaria o emprego e passaria seus últimos dias viajando pelo mundo? Será que a terapia pode ajudar em casos como este? O que você faria se tivesse apenas mais um ano de vida?

“A terapia trata relações interpessoais complicadas, não apenas a fuga do convívio social, mas os desajustes em todas as suas gamas e nuances: o autismo, a fobia social, a personalidade esquizoide e antissocial, o narcisismo, a incapacidade de amar, de se valorizar, a autodepreciação”. EsSte é um trecho do romance A cura de Schopenhauer, do psiquiatra e escritor norte-americano Irvin D. Yalom, publicado em 2005 e que chega às livrarias em sua 2ª edição. O livro trata de vida, terapia em grupo e morte, temas que, normalmente, nos levam a muita reflexão.

Arthur Schopenhauer (788-1860) foi um filósofo alemão do século 19.

Ele não acreditava que o amor tivesse relação direta com a felicidade, mas com a vontade irracional de reprodução. Desse modo, a vontade seria a raiz metafísica do mundo e da conduta humana e, ao mesmo tempo, fonte para todos os sofrimentos. Ao longo da vida, desenvolveu um sistema ateu e ético que tem sido descrito como uma das mais fortes manifestações do pessimismo filosófico.

Em A cura de Schopenhauer, Yalom utiliza a história de vida desse filósofo como pano de fundo para discutir os métodos da terapia em grupo. Para isso, elabora o drama vivido pelo personagem principal da obra, Julius Hertzfeld, renomado psiquiatra que é diagnosticado com melanoma (câncer de pele maligno). Após receber a notícia de que, possivelmente, teria apenas mais um ano de vida, Julius, um senhor de 65 anos, viúvo e que vive distante dos filhos, começa a pensar sobre qual seria o verdadeiro sentido de sua existência na Terra.

Atolado em pensamentos mórbidos, o psiquiatra recorda tudo que viveu e decide tomar uma atitude: procurar antigos pacientes e saber o que lhes teria acontecido após o tratamento. “Como terapeuta, sabia que tinha ajudado muitas pessoas, mas será que tive um impacto duradouro na vida deles?”, se pergunta. Durante a pesquisa sobre o paradeiro de seus antigos clientes, Julius Hertzfeld fica muito incomodado ao se dar conta de que não conseguiu ajudar todos que buscaram seus serviços, em especial Philip Slate, um ex-viciado em sexo, que havia abandonado o tratamento há 22 anos.

Mesmo depois desse longo período, Julius consegue entrar em contato com Philip, que obteve alívio para seus problemas de relacionamento estudando e seguindo a teoria pessimista do filósofo Arthur Schopenhauer.
Intrigado com a história, Julius resolve se encontrar com o ex-paciente, agora terapeuta, e conferir de perto toda essa transformação. Esse é um trecho fundamental do livro, pois é quando a dupla firma um acordo que vai transformar a vida de ambos. Com o objetivo de obter a licença necessária para atender pacientes, Philip Slate propõe a Julius Hertzfeld que o supervisione e, em troca, ensinaria ao psiquiatra o pensamento filosófico de Schopenhauer. Julius aceita o convite, mas exige que Philip participe de suas sessões de terapia em grupo.

É então que o leitor conhece Tony, Rebecca, Stuart, Pam, Gill e Bonnie, todos intrigantes personagens que buscam soluções para seus problemas conjugais e afetivos por meio da terapia em grupo elaborada por Julius. A sequência da trama reserva muitas descobertas, discussões e aprendizados para todos os envolvidos na história. Além disso, a cada início de capítulo o leitor encontrará interessantes pensamentos que ajudarão a entender aspectos da narrativa proposta por Schopenhauer e, certamente, ficará curioso para saber mais sobre a obra desse grande filósofo.

Arthur Schopenhauer foi um filósofo existencialista influenciado pelo idealismo transcendental de Immanuel Kant e do niilismo de Friedrich Nietzsche e também introduziu o pensamento indiano e conceitos budistas na filosofia alemã. Sua principal obra é O mundo como vontade e representação, na qual mostra o mundo fenomenal Para ele, o amor era meta de vida, mas não como caminho para a felicidade, apenas uma vontade irracional para garantir reprodução e dar continuidade à vida e, assim, ao sofrimento, que ele considerava ser um sentimento positivo.


TRECHO DO LIVRO

“Preciso resolver o que faço com o tempo que me resta. E quais são as opções? Interromper a terapia de todos os pacientes e do grupo? Não estou preparado para isso.
Tenho pelo menos um ano de saúde. E o trabalho é muito importante para mim. Também recebo muito dele. Se parasse com tudo, iriam me considerar um pária. Acompanhei diversos pacientes com doenças terminais que me disseram que o pior era o isolamento causado pela doença. E o isolamento é duplo: primeiro, a própria pessoa se isola porque não quer trazer os outros para o desespero dela. Posso dizer que essa é uma das minhas preocupações aqui. Segundo, porque os outros evitam o doente por não saber o que falar, ou não querer nada com a morte”.


A cura de  Schopenhauer

• De Irvin D. Yalom
• Harper Collins Brasil
• 382 páginas
• R$ 39,90
• R$ 31,40 (e-book)

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