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Conversas que curam

Chega ao mercado a nova edição de Quando Nietzsche chorou, instigante romance psicológico que leva o leitor aos primórdios da psicanálise e ao mundo enigmático do genial filósofo alemão


postado em 12/04/2019 05:08

JULIAN TINAYRE (GRAVURA EM MADEIRA)
JULIAN TINAYRE (GRAVURA EM MADEIRA)
Em tempos de excesso de informação, redes sociais, estresse, discussões políticas acaloradas entre amigos e familiares, rotina agitada e até mesmo dúvidas existenciais, você já pensou em como seria sua vida se pudesse contar com a ajuda de um “filósofo pessoal”? Pois o livro Quando Nietzsche chorou, o primeiro romance do escritor e psiquiatra americano Irvin D. Yalom, publicado originalmente em 1992 e com nova edição que chega agora ao mercado, dá ótima ideia de como seria essa experiência.

Quando Nietzsche chorou traça um interessante paralelo entre ficção e realidade e nos leva ao ano de 1882. O início da trama ocorre em Veneza, Itália, onde Josef Breuer passa suas férias. Breuer foi um médico e fisiologista austríaco e suas obras são até hoje reconhecidas por terem lançado as bases da psicanálise, método terapêutico que procura explicar o complexo funcionamento da mente humana e se concentra na relação entre desejos inconscientes e sentimentos.

E é justamente naquele momento histórico que se passa o livro. Yalom relata encontros fictícios entre Breuer, o filósofo e professor alemão Friedrich Nietzsche, o ainda estudante Sigmund Freud e a jovem russa Lou Salomé, todos instigantes personagens reais, que expõem, ao longo da narrativa fictícia, visões filosóficas sobre a psicanálise. A história se concentra, principalmente, nas consultas entre Breuer e Nietzsche, em Viena, capital da Áustria, e no alívio das angústias que ambos sentem por meio  da conversa.

Após intervenção da audaciosa e confiante Lou Salomé, figura importante no enredo proposto pelo autor, Breuer aceita o desafio de tratar o desespero e os ‘desejos de morte’ de Nietzsche, porém, sem que o paciente saiba disso. A jovem russa resolve procurar o doutor Breuer após uma série de tentativas frustradas de tratamento para as fortes dores de cabeça, surtos e náuseas do amigo Nietzsche, e, principalmente, depois de ter tido conhecimento do caso de Anna O. (pseudônimo de uma mulher que teria sido curada pelo médico com a técnica de ‘terapia por meio da conversa’).

Deste modo, o surgimento da psicanálise é tratado por Yalom por meio de conversas, interpretações de sonhos e até mesmo hipnose usadas pelos personagens ao longo da história. Por vezes, o leitor tem a sensação de fazer parte da narrativa, já que alguns questionamentos sobre vida, morte, trabalho e família podem ser aplicados em nosso próprio cotidiano. Porém, sem conseguir avanços significativos, Breuer chega a pensar em desistir do projeto, já que encontra pela frente um Nietzsche retraído e completamente indisponível para novas relações pessoais.

TRATAMENTO
SIGILOSO

Então, como curar o problema de saúde de uma pessoa sem que ela saiba do tratamento? Ou melhor, como tratar de questões de cunho psicológico se o paciente se dispõe a cuidar apenas de sintomas físicos e descarta qualquer possibilidade de conversa sobre sua própria vida? Eis o imbróglio em que se encontra o dr. Breuer. O romance ganha, então, contornos dramáticos com as frustradas investidas de aproximação do médico junto ao paciente, e o iminente fracasso da tentativa de cura de Nietzsche.

Em uma passagem do livro, após uma das consultas,  Breuer escreve sobre Friedrich Nietzsche: “Não faz mais sentido eu ficar me enganando. Existem dois pacientes em nossas sessões e, dos dois, sou o caso mais grave. Estranho, quanto mais o reconheço intimamente, melhor Nietzsche e eu parecemos trabalhar juntos. Talvez a informação recebida de Lou Salomé também tenha alterado nossa forma de trabalhar {...} É muito misterioso. Sig (Sigmund Freud) se interessa por tais detalhes de comunicação. Eu deveria conversar com ele a respeito”.

O leitor poderá observar que foi analisando seus próprios problemas, como crise pessoal, dúvidas sobre o trabalho, e a possibilidade de cometer adultério com uma de suas pacientes, que Breuer encontra uma maneira de se beneficiar das conversas filosóficas que tinha com Nietzsche e também convencê-lo da importância de levar o “tratamento da enxaqueca” e de seus outros sintomas físicos adiante. Por isso, Quando Nietzsche chorou é contagiante e merece ser lido por envolver mentes incríveis, diálogos instigantes e uma improvável história de amizade.

Quando Nietzsche chorou
• De Irvin D. Yalom
• HarperCollins Brasil
• 383 páginas
• R$ 39,90
• R$ 31,40 (e-book)
 


TRECHO DO LIVRO


“É mais do que uma fantasia – falou Nietzsche –, mais real do que uma experiência imaginária. Escute apenas minhas palavras! Bloqueie todo o resto! Pense no infinito. Olhe para antes de você; imagine que está olhando para dentro do passado. O tempo se estende para trás por toda a eternidade. Ora, se o tempo se estende infinitamente para trás, tudo que pode acontecer já não deve ter acontecido? Tudo que se passa agora não deve ter acontecido desta forma antes? Tudo que anda aqui já não deve ter percorrido este caminho? E se tudo aconteceu antes na infinidade do tempo, o que você pensa, Josef, deste momento, de nossas confidências sob esta abóbada de árvores? Também já não deve ter ocorrido? E o tempo que se estende infinitamente para trás também não deverá se estender infinitamente para a frente? Nós, neste momento, em cada momento, não deveremos retornar para sempre? Nietzsche calou-se para dar um tempo a Breuer de absorver sua mensagem. Era meio-dia, mas o céu escurecera. Uma neve leve começou a cair.”


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