Vem carnaval, vai carnaval e uma personalidade emblemática nunca fica fora da festa extraoficial nas ruas, mesmo que, aparentemente, nada tenha a ver com a realidade brasileira. É o caso da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), famosa por suas sobrancelhas unidas e roupas extravagantes e coloridas, e, principalmente, pela sua dramática história de vida e postura libertária para enfrentar adversidades num ambiente predominantemente masculino e opressor. Ícone da cultura pop do século 21, mesmo 64 anos depois de sua morte, Frida está nas caras, bocas, roupas e apetrechos em geral em todas as épocas do ano. E no carnaval não é diferente.
Na última terça-feira, a secretária Maria Alice de Paula Schubert esteve em uma loja na Savassi, em BH, em busca de fantasia, vestido ou camiseta da pintora para o carnaval. Opções não faltavam. Mas por que Frida? “Porque acho que ela tem a ver com as mulheres de hoje”, respondeu. A resposta sintetiza exatamente o que representa a artista, que em sua época era geralmente reconhecida apenas como mulher do muralista Diego Rivera (1886-1957), mas já travava luta silenciosa pela emancipação feminina. Hoje ela é um ícone pop.
Frida morreu em 13 de julho de 1953, com apenas 46 anos. Foi uma mulher além do seu tempo por várias razões, pelas bandeiras libertárias de mulher militante e do amor livre, temas caros para sua época, e por sua obra emblemática em defesa dos povos indígenas e outros excluídos da América pós-Colombo. Respondeu à altura às traições de Diego, que inclusive chegou a traí-la com a irmã dela. Sob as barbas do marido, ela manteve um caso com Leon Trótski (1879-1940), uma das personalidades mais importantes da época, que estava vivendo na famosa Casa Azul do casal, no México, como refugiado da perseguição implacável de Josef Stálin (1878-1953), o então todo-poderoso líder da URSS.
“Espero alegre a minha partida, e espero não retornar nunca mais.” Essa foi a última frase escrita por Frida em seu diário. E, provavelmente, nem a própria artista imaginaria que seria idolatrada no século seguinte e, sem exagero, com popularidade semelhante à dos Beatles. Símbolo do feminismo e do empoderamento das mulheres, ao longo das décadas, ela virou filme, peça de teatro e passou a inspirar artistas, publicitários, produtores de moda e um número infinito de produtos para um mercado que parece inesgotável.
‘TENHO ASAS PARA VOAR’
E é claro, então, não poderia faltar Frida em quadrinhos também. Está no mercado mais um precioso item sobre a vida dessa mulher fascinante: Frida Kahlo – Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?.
O título do livro reproduz uma declaração de Frida e faz referência ao seu sofrimento e à superação física e mental. Poliomielite aos 6 anos e uma perna mais curta, um gravíssimo acidente de trânsito aos 17 anos e longos e infrutíferos tratamentos. E uma perna amputada já no fim da vida. Como descreveu seu conterrâneo, o escritor Carlos Fuentes, no prefácio de O diário de Frida Kahlo – Um autorretrato íntimo, “sua dor e seu corpo foram fontes da sua arte”. A edição brasileira inclui ainda páginas que contam um pouco mais sobre a vida de cada personagem do livro, para além do que é mostrado nos quadrinhos, como o poeta Andre Breton e Paulette Goddard, mulher de Charles Chaplin e também amante de Diego Rivera..