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Recuos e avanços


postado em 30/11/2018 05:17

Viver a cidade exige conviver, constantemente, com a tensão entre as individualidades e coletivos, semelhanças e diferenças, subjetividades e objetividades. Nas perspectivas teleológicas clássicas, o mundo da utopia se constrói a partir da ideia de harmonia e eliminação das contradições entre os seres, não reconhecendo o conflito como um elemento inerente à realidade humana. No entanto, toda estrutura social é dominada por movimentos que tendem a conservar as práticas e instituições existentes, e outros que constroem novas formas de viver e de se relacionar com as instituições. A vida social é alimentada pela tensão entre eles de forma continuada e cotidiana.

A arquitetura, não indiferente a essa tensão, subsiste como uma profissão refém de arcaicas tipologias disciplinares, clientes conservadores, interesses e utopias privadas. Como diria Wellington Cançado, arquiteto urbanista e editor da revista Piseagrama, uma? monocultura desoladora de plantas e paisagens repetidas por toda cidade, produtos de um mercado em crise, ofertas imobiliárias já encalhadas, e que pateticamente não aprendemos a habitar.

Ao mesmo tempo, cotidianamente emergem, por meio de novos imaginários políticos, muitas outras arquiteturas possíveis. Em dimensões menores, mas escalas perfeitamente humanas. São ensaios não solicitados, redesenhos invisíveis aos olhos, e práticas colaterais que problematizam a conflituosa geografia contemporânea.

Peter Pal Pelbart, filósofo conhecido por seus ensaios sobre a biopolítica na contemporaneidade, apresentou no Sesc Palladium, em setembro deste ano, “Das errâncias”? – uma? fala sobre O livro por vir, de Maurice Blanchot (1907–2003), ensaísta francês e crítico de literatura:

Uma conhecida interpretação sobre a criação do mundo, proveniente da tradição cabalística, retomada por pensadores do século 16, e intervinda por Maurice Blanchot, reza o seguinte: para que o mundo pudesse vir à existência, o ser infinito precisou abrir espaço, por um movimento de recuo e retração. Assim, o problema essencial da criação não consistiria em saber como algo foi criado a partir do nada, mas como o nada foi escavado, a fim de que a partir dele houvesse lugar para alguma coisa. Como diz Blanchot, o desafio divino estaria em apagar-se, em ausentar-se, no limite em desaparecer, como se a criação do mundo implicasse na evacuação de Deus.

O mesmo, Blanchot diz respeito ao autor: é preciso que ele se retire, enquanto sujeito, é preciso que ele desapareça enquanto eu, para que advenha a literatura própria e pura. Tal retraimento do eu, do sujeito, de Deus, ou do próprio pensamento, tal apagamento, tal desaparecimento, tal abandono não é, portanto, omissão, nem derrota, mas puro dom. Explorar o vazio e o inacabado, portanto, é um estímulo à desleitura para os olhos ainda domesticados pela leitura comum?—porque? é o movimento constante que faz o fim parecer indeterminado.

* Sarah Matos é arquiteta e urbanista pela UFMG, coordenadora de comunicação do Programa CCBB Educativo e associada ao centro de arte e tecnologia JA.CA.


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