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O MESMO SLOGAN. A MESMA INDIGNAÇÃO


postado em 02/11/2018 05:07

A intelectual francesa Simone de Beauvoir, em Paris, em 1971. Reflexão de Beauvoir sobre a condição da mulher é central no desenvolvimento do feminismo europeu e foi referência para as ativistas brasileiras nos anos 1980(foto: GEORGES BENDRIHEM/AFP)
A intelectual francesa Simone de Beauvoir, em Paris, em 1971. Reflexão de Beauvoir sobre a condição da mulher é central no desenvolvimento do feminismo europeu e foi referência para as ativistas brasileiras nos anos 1980 (foto: GEORGES BENDRIHEM/AFP)

 

Agosto de 2018
Numa conversa de Facebook, em agosto, jornalistas comentam o recrudescimento da violência contra a mulher. “É preciso fazer alguma coisa, não podemos perder a capacidade de nos indignar”, afirmou Hélia Ventura, jornalista aposentada do Diário da Tarde. Alguns dias depois, Mirian Chrystus publica, também no Facebook: “Mulheres do mundo, uni-vos”. É o começo da reedição do “Quem Ama Não Mata”, o potente slogan criado em 1980.

O mesmo slogan, a mesma indignação contra a mesma violência. Mas o mundo mudou, a sociedade é outra. Há 40 anos, o feminismo se dividia basicamente em duas grandes correntes, a europeia, com influência de Simone de Beauvoir, e a norte-americana, de Betty Friedan.

O feminismo norte-americano, em linhas gerais, era massivo e apontava falhas do sistema capitalista que poderiam ser sanadas. Já o feminismo europeu influenciava mais o meio universitário, que reverberava as ideias para a sociedade através da mídia. A principal questão colocada pela intelectual francesa foi questionar a imbricação destino e biologia. “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, afirmou Simone de Beauvoir. Estava aberto o caminho que desembocaria não em linha reta, na ideia de Judith Butler a respeito do gênero como performance: o feminino como algo da esfera da construção de papéis. “A mulher é a portadora privilegiada do feminino”, afirmou, certa vez, a psicanalista Ana Portugal. Privilegiada, mas não a única. Homens podem ser portadores do feminino, principalmente aqueles que se colocam sob a bandeira das mulheres, segundo Lacan, os homens que não se veem e não agem como detentores do poder.

IDENTIFICAÇÃO
Assim, quando surgiu a ideia de se reeditar o ato de 1980, logo se constatou a necessidade de incorporar as várias vozes do feminismo atual: “ser mulher” passa a ser, inclusive juridicamente, parte de sentimento e identificação: tanto que a morte de mulheres trans por companheiros pode ser incluída no conceito de feminicídio, lei aprovada em 2015 pela presidente Dilma Rousseff.

De todos os fenômenos culturais, o que mais impactou o feminismo dos anos 1970/80 foi o feminismo negro. Ele não veio apenas como mais uma vertente a se somar, mas como a prática e reflexão teórica que colocou em xeque as bases do feminismo tradicional. Este foi criticado como essencialista, por não levar em conta a concretude das experiências singulares de grupos de mulheres que não apenas as brancas de classe média.

Assim, o movimento/ato “Quem Ama Não Mata” de 2018 vai refletir esse momento da cena atual. Na próxima sexta (9), a partir das 18h, na Avenida Álvares Cabral, em frente ao Sindicato dos Jornalistas, estarão presentes representantes de movimentos e coletivos que representam as lésbicas, as trans, as estudantes universitárias e secundaristas, as trabalhadoras rurais, as intelectuais, as representantes de instituições como a UFMG e a PUC, as prostitutas, as líderes comunitárias, as feministas negras. Somando-se às atrizes, cantoras, poetas, o ato será majoritariamente negro. Como negro é majoritariamente o Brasil. Todas vozes, em uníssono, contra o feminicídio e as outras formas de violência contra a mulher.

Mais uma vez, feminismo e política se encontram, se entrelaçam: em 1975, combatendo a ditadura militar; em 1980, reivindicando a redemocratização do país e a anistia. Agora, juntamente com as forças democráticas do país, contra violências praticadas durante o processo eleitoral, zelando pela nossa frágil democracia.


Mirian Chrystus é jornalista. Eliane Marta Teixeira Lopes é professora emérita da Faculdade de Educação (UFMG). Silvana Cóser é socióloga.


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