Túllio Marco Soares Carvalho
Belo Horizonte
Clarice Lispector, genial e sensível escritora, em um de seus contos, fez a seguinte conexão entre janelas e vida: "Quando abri as janelas e vi o jardim fresco e calmo aos primeiros fios de sol, tive a certeza de que não há nada a fazer senão viver." Através das janelas a vida entra no ambiente, em forma de claridade, ventilação e horizonte alargado. Quem usufrui de uma janela, usufrui de vida. Não é sem motivo que as tropas nazistas tinham obsessão por tapar janelas, visando a morte de seus inimigos. Uma das primeiras providências tomadas pelos membros da Gestapo e da SS, quando embarcavam os judeus em trens, a caminho da morte, nos aterradores campos de concentração, como Auschwitz, era tapar as janelas dos vagões, de modo que o máximo de seres humanos já morressem pelo caminho com falta de ar, o que efetivamente acontecia, principalmente entre idosos, crianças e doentes. A propósito, os primeiros locais utilizados pelos nazistas, ainda em fase incipiente, como câmaras de gás, para o extermínio em massa de judeus e outros inimigos, através do composto químico Zyklon B, eram galpões cujas janelas eram tapadas, para aumentar a eficiência da matança. Enfim, os nazistas tinham obsessão por tapar janelas, pois dessa forma inviabilizavam a vida, já que eram diligentes serviçais da morte. No final deste mês, mais precisamente em 30 de abril de 1945, completar-se-ão 78 anos do suicídio de Adolf Hitler, o semideus nazista, a encarnação do mal, o artífice mor de um dos períodos mais pavorosos da história da humanidade. A data da morte de Hitler é propícia para que sejamos lembrados de que sua ideologia genocida continua arrebanhando asseclas mundo afora. Aqueles que querem tapar as janelas alheias, movidos por pura perversidade, estão no meio de nós e cada vez mais abusados, como coelhos que não se importam em sair das sombras de suas tocas. Estejamos atentos.