Jornal Estado de Minas

Análise

Setor automotivo: o que esperar do mercado?

 
Flávio Passos*
São Paulo

“A pandemia trouxe uma queda na produção global de veículos. Embora os efeitos recessivos deste período estejam sendo superados e a normalização das cadeias globais de produção esteja em curso, a produção do veículo 0km ainda apresenta desafios pelo lado da oferta de insumos e nas questões de logísticas, o que reflete em baixos estoques de exemplares novos nas concessionárias e preços mais altos. Além disso, a elevada inflação, a alta dos combustíveis, o custo do crédito e o delicado cenário do fornecimento global de componentes eletrônicos são as principais causas da desistência dos consumidores na compra de um veículo novo.




O IPCA acumulado nos últimos 12 meses atingiu em março 11,3%, enquanto os itens 'veículos novos' e 'gasolina' subiram, respectivamente, 18,2% e 27,5%, no mesmo horizonte temporal. Portanto, bastante acima do índice cheio, que já está elevado. Soma-se a isso, nos últimos meses temos um crescimento das taxas de juros no país, o que aumenta o custo do financiamento dos veículos. No Brasil, cerca de quatro em cada 10 veículos novos são financiados.
Neste período desafiador, com obstáculos para adquirir um veículo novo, a alternativa para muitos brasileiros foi a aquisição de carros usados, já que há maior liberdade para negociar o preço e não há necessidade de esperar meses em uma fila para ter o modelo disponível.
Neste ano de 2022, com a eclosão da guerra entre Ucrânia e Rússia, há uma piora no já delicado cenário de fornecimento global de insumos para a indústria automobilística. Ambos países são produtores globais, por exemplo, de gás neônio e paládio, os quais são usados nos componentes do segmento automotivo. Paralelamente a isso, a procura por carros usados também foi afetada por fatores como a inflação elevada, a alta dos combustíveis e o custo do crédito. Vale destacar que a escassez de veículos novos afeta o mercado como um todo, pois muitos usados são negociados no processo de compra de um novo. O setor automotivo vem se recuperando da crise, mas com uma mudança de perfil. Mesmo com preços mais altos, há um crescente espaço para os seminovos e usados, já que para muitos brasileiros a compra de um 0km vai ter que esperar a economia se recuperar."

*Vice-presidente de autos e comercial da OLX