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Estado de Minas Reflexão

Advento, acendendo a chama do Natal


03/12/2021 04:00



Andreia Donadon Leal 
Mariana – MG
 
"Luzes nas sacadas, muros, jardins e janelas das cidades – chegou o advento. Luzes acendem o cenário urbano. Último mês do ano; o tempo passou num estirão. Ruas nem tão cheias, nem tão vazias – cautelosas... A vida, ainda, não voltou à normalidade. O cenário pandêmico não nos abandonou. Deus nos livre e guarde dessa moléstia que ceifou e ceifa vidas e sonhos. Não é época para comemorações exorbitantes, muito menos eventos que promovam aglomerações. É tempo de agradecer a vida, a saúde, o pão, o emprego... Chove. Cachorro vigia a chuva. Olha ensimesmado as gotas transparentes que batem no piso encardido. Avança, recua... Tomo chuva. O tempo mudou de uma hora pra outra. Relâmpagos acendem o céu. Mãe e filha entram na loja de brinquedos. Faltam alguns dias para o Natal. A vendedora sorriu para a menina, mostrando bonecas, panelas e fogão de brinquedo. Nunca tive um brinquedo de panelas ou que remetesse a trabalhos domésticos. Mãe falava que brinquedo tem que ser coisa de mexer com o universo lúdico e criativo. Estiou. Lembrei-me da entrevista com a estudante de jornalismo. Quisera ter a energia e o sonho da moça. Sonhos esmaecem ou tomam outro rumo com o passar dos anos. Disse pra ela que escrever e publicar são atos de resistência, criatividade e teimosia extremas. Combato meus males internos com leituras e escritas de segunda a segunda. Não estou feliz nem triste; estou no limiar dos humores. Planejo tarefas diárias para não cair na tentação da depressão. Mente e corpo desocupados são vias para a autossabotagem. Vozes altas nas ruas, vidas que pulsam e repulsam. Um moço cata caixas de papelão no lixo, grita para o céu. Nunca compreendi o diálogo dele com as coisas inanimadas. Admiro vitrines e entradas de lojas: arranjos de flores, árvores e bolas natalinas. Ano passado, fiz uma decoração à altura do Natal em casa. Neste ano, desânimo perpassa planejamentos e tradições. Olho uma loja de decoração. Quiçá compre uma árvore de madeira ou de latão colorida. Laços, ramos, flores, bolas e luzes... Duas lagartixas deslizam sobre a parede da loja. Há tempos não vejo lagartixas. Que equilíbrio invejável! Ando devagar, observando as ruas e pessoas com máscaras ou sem. Acostumei-me com a vestimenta do rosto; faz parte do meu direito de ir e vir. Acostumei-me com o fim do ciclo. Alguns parentes e amigos morreram. O tempo passa para todos, pra mim e você, também, prezado leitor. Perdi nesta pandemia parentes, amigos e conhecidos. Amanhã? Não sei. Um homem esbarra em mim, pede desculpas e corre para o ponto de ônibus. Coitado, perdeu a condução! Uma cadeirante amaldiçoa a altura do meio-fio. Ajudo-a a atravessar a rua. Sorrio para o trocador que carrega a moça, enquanto o passageiro leva a cadeira. O elevador para pessoas com deficiência não funcionou. Olho o arco-íris. Não sei qual foi a última vez em que visualizei um. Bons presságios? Tomara. Alguém me cumprimenta. Não reconheço os olhos sob a máscara. Respondo, automaticamente. Estacionamentos lotados. Há tempos parei de dirigir pelas vielas estreitas. Um caminhoneiro aponta um dedo para uma motorista que desce do carro e bate no vidro do carro. Guarda interfere no bate-boca. Olho para a faixa de pedestres, paro, espero o carro parar primeiro. Desconfio de minha sombra. Um cão caminha despreocupadamente pela rua. Mãe e filha passam com sacolas de brinquedos. A expressão da criança e da mãe é de pura felicidade. Param na sorveteira. Já fui criança feito essa menina. Já fui pra rua escolher uma lembrança natalina de mãos dadas com minha mãe. Que cena esperançosa! Caminho devagar, tomando ar e água da chuva no rosto. Minhas pernas andam com facilidade. Meu corpo não dói. Meus cabelos despenteados esvoaçam com o vento. Respiro o ar puro das montanhas. Chuva que vai, chuva que volta. Vida que vai, vida que brota. Esperança que vai, esperança que volta. Felicidade que vai, felicidade que volta. Caminho que vai, caminho que volta. Sonho que vai, sonho que volta. Águas que vão, águas que voltam. Avanço, recuo. Paro, caminho. Admiro o cenário natalino que rebrota a esperança de novos tempos, outros ciclos. Desejos concluídos ou não. Felicidades mínimas maximizadas. Doces lembranças movimentam planos. Entro na loja de decoração. Compro árvores, bolas, laços e luzes para acender o Natal de casa, reativando doces lembranças que arrebatam saudades. Entro na sorveteira, a cena que me vem à memória é a do sorriso largo de mãe na véspera do Natal... Meu instante agora é seguir o meu ciclo, feliz, acendendo meu Natal..."

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