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Estado de Minas LÍBANO

A espetacularização do sofrimento alheio


06/08/2020 04:00

Eduardo Martins Cardoso 
Belo Horizonte 

"A explosão em grande escala registrada em uma região portuária de Beirute, no Líbano, deixou mais de 100 mortos e milhares de feridos. Diante do terrível acontecimento e da repercussão que esse gerou na mídia e nas redes sociais, é possível se fazer uma reflexão sobre como as pessoas reagem a tragédias e a maneira que episódios como esse geram uma comoção popular muito grande, mas, ao mesmo tempo, aguçam uma curiosidade singular e expõem um lado sombrio da mente humana. Um padrão se repete toda vez que tragédias acontecem. Não é incomum que, quando ocorre um acidente de carro numa via movimentada, o trânsito fique mais complicado não apenas pelo acidente em si, mas pelo fato de que muitos motoristas que passam pela cena diminuem a velocidade ou mesmo param o carro para olhar, especialmente quando há pessoas feridas na cena. No caso de tragédias que têm registros com fotos e vídeos, como no caso do Líbano, as pessoas as assistem e compartilham, incansavelmente, as cenas dos feridos no hospital, quase como se isso despertasse um certo prazer. Machado de Assis, no conto A causa secreta, conta a história de um médico que encontrou o prazer na profissão não no ato de ajudar os pacientes a se curarem, mas, sim, no interesse em observar de perto a dor e o sofrimento desses. O autor, em 1885, já alertava para a complexidade da psique humana e mostrava que, por vezes, as pessoas têm uma reação excêntrica à dor do outro. Contudo, é importante ressaltar que esse tipo de reação não torna as pessoas más, o que acontece é que a consciência sobre a morte e/ou sobre a dor e sobre o fato de que não foi você quem passou por isso causa uma certa felicidade inconsciente, o que ocasiona essa curiosidade. Por fim, é importante que se reflita a respeito da exposição dessas imagens e vídeos, uma vez que os envolvidos, principalmente em momentos de grande fragilidade como esse, precisam ter sua imagem preservada e sua vida respeitada."

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