Jornal Estado de Minas

MARIANA

Leitor pede para preservar jardim


Andreia Donadon Leal
Belo Horizonte

"Nem Jesus agradou a todos. Não agrado a muita gente ao escrever textos de cunho político.  Políticos que estão no pódio desagradam a muita gente, inclusive correligionários. A vida é assim: uns vão, outros vêm. Defendo a máxima de Obama em aprender a ouvir críticas construtivas em vez de dar ouvidos à bajulação. Essa máxima propalada aos quatro cantos me remete ao projeto de intervenção em um dos cartões-postais de Mariana, o jardim da Praça Gomes Freire.  Ao vislumbrá-lo, vêm à memória os jardins suspensos da Babilônia, local de destaque na história das civilizações. A arte de cultivar jardins em espaços urbanísticos remete-nos a espaços poéticos ornados com bancos e coretos. Entretenimento e atividades culturais pulsantes que mantêm a identidade e características da cidade. Há na Primaz projeto elaborado pela Renova para intervenção e revitalização do exuberante jardim, atendendo à solicitação da prefeitura do município.
O projeto faz parte de uma das ações compensatórias pelo rompimento da barragem. Valor monumental para uma reforma de extrema necessidade? Há outras demandas, obviamente, na cidade que merecem intervenção e/ou investimento para ontem, como implementação de um CTI etc. Longe de mim meter o bedelho ou criticar o que a grande maioria da população marianense solicitou ao gestor da cidade. Esse é o princípio basilar da democracia, ouvir e, sobretudo, aprender a escutar o que diz o outro lado. Não é fácil sair da zona de conforto,  mas é necessário sair da ilha para ver além da ilha. Saber lidar com as diferenças nas relações políticas é a arte de grandes líderes que aprenderam a duras penas o caminho das pedras, apesar de o presente ser assentado sobre ações do passado, infelizmente. Defendo a premissa de que mantenham o leiaute paisagístico com espaço de lazer, entretenimento e apresentações das corporações musicais.
O que pode ser realizado com a benevolente oferta da fundação é um bom contrato de serviços de manutenção do jardim e projeto de acessibilidade para que todos possam usufruir do patrimônio. E que esse espaço possa ser aprazível para turistas que almejam vislumbrar,  respirar e sentir o perfume das flores e plantas. Quem sabe fecham o quarteirão central da Rua Direita, com a construção do calçadão cultural proposto por Elias Layon e pelos poetas aldravistas em 1999? Os anos se passaram. Gestores passaram e continuarão a passar. Que a manutenção, não revitalização, sem uso de verbas estratosféricas, aconteça, preservando o ambiente, cultivando a arte urbanística existente. Voltemos a esboçar um sorriso, a sonhar uma Mariana mais linda e robusta, como outrora dom João VI sonhou ao pedir que, além da matriz, fizessem na Vila do Carmo um belo jardim."
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