Paulo Sérgio Lacerda Beirão
Presidente da FAPEMIG
Em 12 de setembro de 1962, John F. Kennedy lançou um desafio à sociedade americana: antes do fim da década levar um homem à lua e trazê-lo de volta com segurança. Era um desafio extremamente ousado porque não havia conhecimentos e nem tecnologias capazes de fazer isso. Nem mesmo na frente da corrida espacial os Estados Unidos se encontravam: a União Soviética tinha lançado o primeiro satélite, a primeira viagem orbital feita por um ser humano foi feita por um soviético e o recorde de tempo passado no espaço também pertencia a eles.
O resultado obtido, alcançado há 54 anos, foi que Neil Armstrong e Buzz Aldrin pisaram na lua e retornaram com segurança graças a um programa de desenvolvimento científico e tecnológico chamado Projeto Apolo, em que foram investidos bilhões de dólares. Seria ingênuo pensar que houve desperdício de dinheiro para ganhar a corrida espacial e trazer algumas pedras do solo lunar. É sobre os verdadeiros resultados que quero comentar nesse texto.
O fato é que o Projeto Apolo apresentou grandes desafios às instituições de pesquisa e às empresas dos EUA. A superação desses desafios, além de permitir a ida do homem à lua, proporcionou a criação de produtos avançados e inovadores, que provocaram um enorme salto tecnológico na indústria dos EUA, com consequências econômicas que superaram em muito o investimento feito. Sem pretender ser exaustivo, passo a enumerar alguns desses desenvolvimentos.
A primeira coisa que salta aos olhos são as tecnologias de telecomunicações. Para enviar o homem ao espaço é necessário que ele seja constantemente monitorado e haja constantes trocas de informações. Até então as comunicações eram feitas em ondas de rádio que, no máximo, alcançavam algumas dezenas de milhares de quilômetros. O desafio passou a alcançar milhões de quilômetros. Os equipamentos disponíveis à época, muitos ainda baseados em válvulas, eram grandes e pesados, e as tecnologias baseadas em transistores tiveram que ser desenvolvidas e de uma forma compactada.
A partir de então começaram a surgir os equipamentos miniaturizados, tendência que persiste. Os computadores eletrônicos foram outro segmento muito impactado. A substituição das válvulas por transistores e chips permitiu colocar dentro das cápsulas dos foguetes uma capacidade de computação que, poucos anos antes, exigiam salas inteiras ou até prédios. Muito foi desenvolvido na indústria alimentícia porque, obviamente, os astronautas precisam se alimentar e não seria possível colocar alimentos convencionais dentro de um foguete. Mesmo coisas hoje consideradas banais, como o velcro, foram inventadas para a exploração espacial por permitir que objetos fossem fixados em ambiente sem gravidade. Menos benigno, mas ainda assim importante, foi o desenvolvimento de mísseis capazes de serem dirigidos a longas distâncias. Comunicação por satélites, GPS, telefones celulares (e várias outras coisas) são frutos com origem nesse projeto.
Voltando para o título deste artigo, o que podemos aprender? Acho que esse exemplo, e de outros programas análogos aqui não mencionados, nos mostram que projetos abrangentes e estruturantes podem gerar produtos altamente inovadores, voltados para a solução de problemas relevantes. Para isso é necessário o concurso de uma ação indutora de governos, que colocam metas desafiadoras como políticas públicas, mas também depende de instituições de pesquisa capazes de fazer frente aos desafios e uma indústria disposta a inovar, se apropriando dos conhecimentos e tecnologias gerados para a produção de novos produtos. O Brasil se mostrou capaz de vencer desafios análogos, quando desenvolveu uma agricultura adaptada ao nosso solo e clima, quando venceu as profundezas do mar para de lá buscar petróleo e quando inventou motores veiculares capazes de rodar com gasolina ou álcool. Temos agora o desafio de reinventar uma economia de baixo carbono, para a qual temos grandes vantagens competitivas.