Jornal Estado de Minas

EDITORIAL

O Brasil repudia o radicalismo

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A democracia brasileira deu mostras de vitalidade, mas ainda está sob clara ameaça. A demonstração pública de forte união entre os três Poderes, cujas sedes foram atacadas de forma vil, foi fundamental para acalmar os ânimos depois dos atos terroristas de 8 de janeiro. Contudo, são muitas as incertezas no meio do caminho e, mais do que nunca, a sociedade precisa se conscientizar de que não pode abrir mão do compromisso com os termos da Constituição. O radicalismo que afrontou as instituições permanece latente e disposto a testar todos os limites da lei. Não há espaço para vacilos em relação aos que insistem em impor suas vontades à força, desrespeitando a civilidade e o que prevê a legislação.





O Brasil tem um triste histórico de golpes. O país, felizmente, vive o seu mais longo período democrático desde a Proclamação da República. Trata-se de uma conquista inestimável, que permitiu avanços importantes para a sociedade, calada muitas vezes por meio de medidas autoritárias. Está claro que, a despeito das rápidas respostas aos atos golpistas de domingo passado, cujas imagens chocaram o mundo, as feridas da democracia continuam abertas. Aqueles que a feriram continuam conspirando ao financiar, por exemplo, ações para sabotar o funcionamento do país, como a derrubada de torres de energia elétrica. A determinação desses golpistas é criar o caos e inviabilizar o Estado democrático de direito.

Toda a estrutura radical que hoje atormenta o Brasil não surgiu ao acaso, como já demonstrou, por diversas vezes, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Começou a ser montada há pelo menos 15, 20 anos, minando, aos poucos, os pilares da democracia. Primeiro, criando uma indústria de disseminação de notícias falsas para se contrapor à imprensa tradicional. Depois, ocupando postos estratégicos do Poder Judiciário. Em seguida, contestando o sistema eleitoral. Tudo foi feito de forma pensada, com o objetivo claro de surrupiar direitos constitucionais e implantar autocracias.

Não será tarefa fácil desmontar todo esse mecanismo, que se alimenta do fanatismo e da desinformação. Apesar de todas as imagens absurdas dos ataques ao coração da República, há uma leva significativa de brasileiros que acreditam que tudo foi feito em benefício do Brasil. Reverter esse quadro assustador levará tempo e exigirá das autoridades constituídas paciência, mas também firmeza, impondo a lei, sempre respeitando os limites constitucionais. Excessos só darão munição aos radicais, que estão espalhados pela estrutura do Estado, pelas forças estaduais de segurança e pelas Forças Armadas.





Os alertas foram dados há tempos. Porém, o Brasil optou por não enfrentar, com ações contundentes, os movimentos desestabilizadores da democracia. Agora, chegou-se ao limite. Que ninguém se engane apostando que a pacificação do país será um processo natural, ao longo do tempo. Será necessária muita resiliência dos democratas. Exemplos do mundo não faltam. Regimes democráticos vistos como sólidos ruíram. A extrema-direita que defende autocracias cresce assustadoramente nos Estados Unidos e na Europa. É, portanto, um movimento global pronto para dilapidar o direito à liberdade e destruir a essência da política.

Uma semana se passou da barbárie em Brasília. A reconstrução das sedes dos três Poderes está em andamento, assim como a recuperação do patrimônio artístico e histórico. Esse é o caminho. Mas não são tempos de normalidade. O golpismo continua à espreita. A defesa da ruptura do Estado democrático permanece presente no discurso de parcela da população. Os extremistas contaminaram a máquina pública. O ovo da serpente está sendo chocado. Não se pode fechar os olhos para essa realidade. A união dos democratas até agora se sobrepôs. E vencerá. Que todos permaneçam — e muito — atentos.