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Estado de Minas editorial

Inflação é veneno a ser combatido

O Banco Central tem procurado agir de forma técnica, como convém, para não perder seu principal ativo: a credibilidade


04/08/2022 04:00


O Banco Central deu a mais contundente prova de que o controle da inflação ainda está longe de ser uma realidade no Brasil, apesar do desejo eleitoreiro do governo, que prega aos quatro ventos que os índices de preços estão em deflação. Ao elevar a taxa básica de juros pela 12ª vez consecutiva, para 13,75% ao ano, e se comprometer com um novo aumento de pelo menos 0,25 ponto, a 14%, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que o custo de vida continua atormentando – e muito – a população, em especial, a mais carente. Não será a queda temporária dos preços dos combustíveis e mesmo das tarifas de energia elétrica a pôr fim às remarcações. O essencial para os mais pobres continua a encarecer: a comida de todo santo dia.

A inflação está acima do teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) pelo segundo ano seguido. E, pelas projeções dos especialistas, esse quadro deve se repetir em 2023 e 2024, dadas as incertezas que rondam a economia brasileira e, sobretudo, o mercado global. É justamente para evitar que o descumprimento das metas se torne recorrente, que o Banco Central está pesando a mão nos juros. Afinal, anos seguidos de inflação fora das metas indicam leniência no combate disseminado dos reajustes de preços. É admitir que o efetivo controle da carestia deixou de ser a principal missão da autoridade monetária.

A despeito dos arroubos retóricos de integrantes do governo de que a inflação de julho e, provavelmente, a de agosto será negativa –  no economês, haverá deflação –, o Banco Central tem procurado agir de forma técnica, como convém, para não perder seu principal ativo: a credibilidade. Desde março de 2021, a taxa Selic, que serve de parâmetro para a formação do custo do dinheiro, já subiu quase 12 pontos percentuais. Em nenhum ciclo de aperto monetário, desde a adoção do regime de metas de inflação, em 1999, se viu um aumento tão forte dos juros. Ainda assim, o custo de vida não dá trégua.

O BC tem a exata noção de que a inflação é o pior dos venenos para a economia. E não será a proximidade das eleições que impedirá a instituição de seguir com seu trabalho. Deixar a política monetária ser contaminada pelos interesses deste ou daquele candidato é enterrar um ativo do qual qualquer país jamais pode abrir mão. O histórico brasileiro sempre foi de complacência com o descontrole de preços. Não à toa, o país é um dos mais desiguais do mundo. Ao longo de décadas, os mais ricos se protegeram da inflação aplicando seus recursos a juros altíssimos. Já os mais pobres viram o poder de compra ser corroído.

Em vez de alardear a queda momentânea da inflação por conta de uma redução forçada e temporária de impostos sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações, o governo deveria trabalhar para a criação de um ambiente institucional mais tranquilo, com equilíbrio nas contas públicas. É isso que pedem os agentes econômicos para que possam produzir com tranquilidade e a população, consumir. As turbulências criadas por aqueles que estão no poder, chamando para o confronto, incitando a violência, tentando desacreditar o processo eleitoral e gastando irresponsavelmente só pensando em votos, acabam estimulando aumentos preventivos de preços. É o risco Brasil sendo pago pelos mais pobres.

Ao subir os juros, o BC está fazendo a parte dele. Que os demais agentes públicos, que tenham compromisso com a estabilidade econômica e a democracia, façam o mesmo. Não é possível que o Brasil tenha de conviver com inflação de dois dígitos por um longo período, correndo o risco do descontrole de preços que tanto mal fez ao país no passado. O Plano Real realizou um belo trabalho ao tirar a inflação alta da rotina dos brasileiros. Preservar os seus ganhos é preponderante. 


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