Jornal Estado de Minas

editorial

Sinal de alerta para o mundo


O mundo deve se preparar para tempos tenebrosos. Pesquisa realizada com economistas e representantes dos maiores bancos e empresas do planeta aponta uma crise de longa duração, com resultados pesados para a maior parte da população, sobretudo a mais pobre. Apresentado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o levantamento prevê crescimento menor da economia, inflação mais alta, salários menores e aumento na insegurança alimentar. Por causa dos fortes reajustes nos preços dos alimentos e da energia elétrica, milhões de famílias serão empurradas para a miséria, não terão o que comer.





“Estamos à beira de um ciclo vicioso que pode impactar as sociedades durante anos. A pandemia e a guerra na Ucrânia fragmentaram a economia global e criaram consequências de longo alcance que correm o risco de acabar com os ganhos dos últimos 30 anos”, alertam os especialistas. Para eles, o quadro de “tempestade perfeita de volatilidade e incertezas” piora as escolhas de governos e de formuladores de políticas, com impacto direto no custo de vida, na sustentabilidade da dívida pública e nos investimentos. As consequências humanas serão devastadoras.

A situação se agrava porque muitos países não estão tendo a dimensão exata do perigo. Em vez de encarar as adversidades e buscar saídas menos custosas para a população, governantes fogem das responsabilidades e disseminam fake news, criando um mundo fictício com um único objetivo: manterem-se no poder. Por isso, o alerta. Os eleitores não devem se deixar levar por falsas promessas, pois os resultados, mais à frente, serão de difícil reversão. O voto consciente é peça fundamental nesse processo, no qual não há espaço para salvadores da pátria.

A América Latina, puxada pelo Brasil, deverá apresentar a maior inflação neste ano, agravando as desigualdades sociais, que já são enormes. A região, sabe-se, sempre pecou por escolhas erradas, ao priorizar o populismo. Cair novamente nas mesmas armadilhas resultará em uma fatura altíssima. Felizmente, ainda é possível evitar o pior, mas a desaceleração da atividade já está contratada. As famílias terão de abrir mão de coisas básicas para a sobrevivência. Mesmo nas nações mais desenvolvidas, como os Estados Unidos, os tempos serão de apreensão.





O Brasil chega a esse momento sem crescimento econômico há mais de uma década. Na média, desde 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) avança 0,3% ao ano. Ou seja, mesmo nos períodos de maior prosperidade da humanidade, o país não conseguiu tirar o proveito necessário para resol- ver pendências históricas, como a pobreza extrema. A classe média, que é a base de qualquer sociedade, também enfrenta um desemprego renitente e aumenta a sua dependência do governo. Isso pode ser medido pelo número de brasileiros que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS): são mais de 165 milhões de pessoas.

Aqueles que vierem a governar o Brasil a partir de 2023 terão o trabalho hercúleo de tirar a economia do atoleiro e recolocá-la no caminho do crescimento, ainda que as adversidades globais sejam muitas. E não será por meio de bravatas ou planos inconsistentes. O que o país precisa é de seriedade, de transparência, de compromisso com medidas abrangentes e não restritas aos grupos privilegiados de sempre. Erros em série tendem a agravar a miséria que tomou conta das cidades e, por tabela, incentiva a violência.

A história já mostrou que a solução para a reversão da pobreza e a redução da marginalidade é o crescimento econômico sustentado. É o aumento da produção e do consumo que gera mais emprego e renda. As pessoas precisam de dignidade, e isso não se resume a programas sociais. Sim, eles são fundamentais ante o cenário desolador que vivemos. Mas as pessoas querem trabalho para satisfazer suas necessidades básicas. Que as escolhas do país sejam por um futuro melhor, não pelo retrocesso.