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Estado de Minas

Governo é capaz de secar reservatórios


28/09/2021 04:00

Wenceslau Moura
Engenheiro civil e membro do Conselho 
Estadual de Política Ambiental (Copam)
 
O economista norte-americano Milton Friedman já dizia: “Se colocarem o go- verno para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia”. No Brasil, ele poderia reformular e afirmar categoricamente que faltaria água nos reservatórios do maior manancial do mundo.

O fantasma do apagão, que assombrou as famílias brasileiras em 2001, voltou a nos assustar em meio à crise hídrica. Não bastassem todos os problemas que a população está enfrentando, como a maior pandemia da história brasileira, a queda brusca na renda e no emprego e a volta da inflação, agora é preciso também se preocupar com a falta de abastecimento da energia elétrica e água nos lares de todo o país. A desculpa oficial, claro, é o período de estiagem e a falta de chuva nos reservatórios. É mais fácil jogar a responsabi- lidade na mãe natureza e ignorar as ações humanas, seja no desmatamento ou na ausência de soluções para esse problema.

A água não deveria ser um problema para o Brasil, mas uma solução que poucos países têm à disposição. Somos o grande manancial do mundo: 13,7% de toda água doce e 20% das águas subterrâneas do planeta estão em nosso território. Temos o maior rio do mundo, tanto em extensão quanto em volume de água (o Amazonas), mais de 7 mil quilômetros de litoral com o Oceano Atlântico e a segunda maior hidrelétrica do mundo (a usina de Itaipu). Com números assim, precisaria de muita incompetência para faltar água na ge- ração de energia, não é mesmo?

Entretanto, maior do que nossas riquezas ambientais, apenas a incapacidade de fazer uma boa gestão pública desses recursos. Nossos reservatórios estão vazios e, diferentemente do que boa parte da classe política afirma, não é culpa da chuva. A ausência de precipitação nos reservatórios apenas evidencia ainda mais a dificuldade que governantes têm em buscar soluções que “não caiam do céu”.

Nossos reservatórios se esvaziam por exclusiva má gestão dos nossos recursos. Não há justificativa plausível em drenar o volume de água e esperar que a chuva vai repor – nem gerar energia elétrica com oração para São Pedro fazer chover! É preciso buscar antes as soluções para esses pro- blemas. Cada representante político, seja ele municipal, estadual e, principalmente, federal, tem o dever de se debruçar sobre o tema e cruzar informações para traçar estratégias e políticas públicas que garantam o fornecimento de água e energia à população – sem ter que fazer a dança da chuva para isso.

Em São Paulo e em Belo Horizonte, por exemplo, esperaram os reservatórios chegarem a níveis críticos para procurar essas soluções. A saída encontrada foi realizar obras de bombeamento de rios próximos aos reservatórios – tudo feito a toque de caixa e sem licitação. A questão é que esqueceram que o volume retirado de um recurso natural que existe há séculos pode acarretar diversos problemas. Dependendo do ciclo das chuvas, podemos matar esses rios devagar!

Quando se fala em política pública e obra sobre gestão da água no Brasil, inevitavelmente lembramos da transposição do Rio São Francisco. Essa obra faraônica, com custo inicial de R$ 4 bilhões, já ultrapassou R$ 12 bilhões em seu orçamento. A previsão inicial de entrega era 2012, mas até o momento (2021 e três presidentes depois) ainda não foi concluída integralmente. Além disso, a distribuição de água de uma bacia hidrográfica para outra não deve ser executada, pois há muita perda na bacia fornecedora e na transferência.

É falsa a sensação de que basta remanejar a água, pois assim ela jamais faltará – e isso traz um custo altíssimo à sociedade e ao meio ambiente. Do São Francisco, retiram-se menos de 2% de seu vo- lume para a Região Nordeste, mas o rio já está enfrentando problemas de navegabilidade de barcos que utilizam esse recurso como meio de transporte e econômico. Uma atividade interfere na outra.

Temos de aprender a usar melhor a quantidade de água disponível, principalmente por termos vários aquíferos no Brasil, inclusive no Nordeste. Não há segredo quando o assunto é política pública para a gestão de água e hidrelétricas. Para que os índices dos reservatórios não caiam, é fundamental traçar estratégias de economia da água em todos os setores, combater o desmatamento e combinar os diferentes recursos disponíveis, como aquíferos, rios, lagos, represas, entre outros. Tudo de forma sustentável e respeitando a natureza.

O exemplo vem de Cingapura, pequeno país asiático que, apesar de não ter nenhuma fonte hídrica, se tornou referência no uso desse recurso natural e caminha para a autossuficiência em seu território. Um país sem água consegue admi- nistrá-la melhor do que um que tem água em abundância!
 
A crise hídrica é grave e vai afetar ainda mais o cenário socioeconômico já instável que enfrentamos atualmente. A água está presente em todas as cadeias produtivas da indústria, é essencial no agronegócio, uma vez que simplesmente não há fornecimento de alimentos sem ela, e é um direito inalienável das pessoas. 


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