Marta Axthelm
Presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata)
As consequências da pandemia da COVID-19 desafiam a população sob vários aspectos: na saúde, no profissional, no lado financeiro e nas relações pessoais. Essa avalanche, em uma potência máxima, tende a refletir na saúde mental. Pesquisa do Datafolha, realizada em agosto, revela a triste realidade: quatro em cada 10 brasileiros tiveram sintomas de ansiedade ou depressão durante a pandemia. E a maioria pode ter atravessado esses momentos sozinha, sem qualquer rede de apoio.
Os resultados devem servir de alerta para toda a sociedade, já que 44% dos entrevistados relataram problemas psicológicos. As mulheres surgiram como as mais afetadas (53%), jovens entre 16 e 24 anos (56%), pessoas economicamente ativas (48%), pessoas com alta escolaridade (57%) e aqueles sem filhos (51%).
Ao analisar esses números, que são parte da campanha “Bem me quer, bem me quero: O diálogo sobre depressão e ansiedade pode salvar vidas”, realizada pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e pela Viatris, empresa global de saúde, para o mês de prevenção ao suicídio, entendemos que eles são sustentados por um conjunto de fatores: prolongamento do período da pandemia misturado à incerteza com relação ao futuro, o medo da morte, o luto e a falta de convívio social.
Quando entramos no tema depressão, 28% admitiram que foram diagnosticados com a doença ou outro problema relacionado à saúde mental. Além disso, quase metade – 46% – revelou que algum parente ou amigo teve depressão por conta da pandemia.
Mais que saber que a depressão existe, devemos nos conscientizar de que essas pessoas precisam de suporte, de apoio. Hoje, segundo a pesquisa, 10% não souberam agir diante de um conhecido com depressão. Essa dificuldade de lidar com a situação é um pouco maior entre os homens.
De um lado, as pessoas precisam deixar de lado o receio de buscar ajuda com um especialista quando algo não vai bem. Do outro, se faz necessário aprender mais sobre depressão e ansiedade para apoiar quem precisa. É essencial deixar de tratar os assuntos relacionados à saúde mental como tabus. Dos que passaram por ansiedade ou depressão durante a pandemia, 62% tinham pessoas com quem contar e 14% não tinham ninguém para dar suporte.
Felizmente, mais da metade dos brasileiros valorizam a importância e a necessidade de dar apoio e suporte a quem está com depressão. Ter o apoio de familiares, amigos e colegas de trabalho não é barreira para o surgimento de doenças mentais, mas ajuda nessa travessia. O desafio é coletivo.