Jornal Estado de Minas

editorial

Proteção às gestantes

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

Com média diária de 3 mil mortos, quase 370 mil óbitos e mais de 13 milhões de infectados, a pandemia enfrenta um dos períodos mais críticos no país desde do seu início, em fevereiro de 2020. As redes pública e privada de saúde estão em colapso, sobretudo, as unidades de terapia intensiva (UTI), onde o número de leitos é insuficiente. A falta de medicamentos e insumos para tratar os pacientes afeta mais de 300 municípios. Muitos têm morrido na fila por um leito na UTI.



A vacinação segue em marcha lenta. Os governos estaduais e municipais, pressionados pelos setores produtivos, sobretudo o de serviços, relaxam o isolamento social. Os negacionistas afrontam as orientações dos especialistas, promovem aglomerações e se tornam vetores de propagação do vírus. A escala de infectados cresce exponencialmente.

Diante do caos instalado, as mulheres devem adiar o sonho de ser mãe, recomendou o Ministério da Saúde, na última sexta-feira. As novas variantes do coronavírus são mais agressivas com as gestantes e puérperas (aquelas que recém tiveram bebê), segundo o secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Raphael Câmara, sem especificar quais são as cepas.

O secretário acrescentou que o ministério trabalha para identificar que variantes mais ameaçam as grávidas. No fim de julho do ano passado, a Fiocruz divulgou estudo publicado na revista médica International Journal of Gynecology and Obstetrics sobre o impacto da pandemia entre as gestantes. A pesquisa revelou que, entre o início da crise sanitária e meados de junho de 2020, foram registradas 160 mortes de grávidas e puérperas pela COVID-19 em todo o planeta. Desse total, 124 delas ocorreram no Brasil, ou seja, 77% dos óbitos no ranking mundial, sendo 22,6% por não terem tido acesso à UTI e 33,3% não foram intubadas, apesar do grave quadro clínico que apresentavam devido à COVID-19.



De acordo com o Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19, neste ano, o número de mortes maternas pelo vírus mais do que dobrou nas 13 primeiras semanas em relação à média semanal de 2020. Passou de 10,4 (449 mortes em 43 semanas do ano passado) para 22,2 nas primeiras semanas de 2021, com 289 mortes.

Embora a letalidade do vírus não seja seletiva — morrem brancos, pretos, ricos ou pobres —, as mulheres negras são maioria entre grávidas vítimas da doença. Elas têm o dobro de chances de morrer por COVID-19 no Brasil e em relação às não negras. “O racismo é um determinante estrutural da saúde. A mulher preta já acumula essas opressões todas: ela morre mais, tem menos acesso ao serviço de saúde”, afirma a cientista Débora de Souza Santos, professora da Faculdade de Enfermagem da Unicamp.

O alerta do Ministério da Saúde em relação às grávidas não deixa de ser pertinente, apesar do atraso — desde o ano passado, os especialistas apontavam para os riscos que elas corriam. Repete-se o que ocorreu com a necessidade de negociação antecipada com laboratórios e farmacêuticas para a compra de vacinas em quantidade suficiente, evitando-se lapso entre as doses necessárias à plena imunização das pessoas. O Plano de Imunização Nacional chegou capenga ao conhecimento público, o que levou o Judiciário a exigir mais clareza em relação à estratégia de vacinação.

Impõe-se ao poder público, no momento em que o número de óbitos supera o de nascimento em cidades com mais de 500 mil habitantes, uma ação mais eficaz para conter a crise epidemiológica, garantindo às gestantes, bem como aos grupos de risco formados por idosos e pessoas com comorbidades, acesso ao tratamento adequado.



audima