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Estado de Minas editorial

Tempestade perfeita

Um país com o histórico de inflação como o nosso não pode brincar com esse tema


10/04/2021 04:00







Não bastassem todos os problemas políticos e as mortes pela COVID-19 que temos contado todos os dias – são quase 4 mil a cada 24 horas –, o Brasil voltou a flertar com um inimigo perigoso que está encontrando espaço para se expandir em meio à desorganização do governo: a inflação. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) acenderam o sinal de alerta e, se medidas enérgicas não forem tomadas, a velha senhora dará muita dor de cabeça, sobretudo aos mais pobres, que já não conseguem comprar os itens mais básicos para a alimentação.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou março com alta de 0,93%, o pior resultado para o mês desde 2015. No acumulado de 12 meses, a inflação cravou 6,10%, muito distante do teto da meta, de 5,25%, perseguida pelo Banco Central. As estimativas das principais casas bancárias são de que, em julho, o custo de vida estará rodando em torno de 8%, para então começar a perder força. Mas a pergunta que todos se fazem é se, realmente, o dragão dos preços altos sairá de cena quando encontra um ambiente propício para ganhar musculatura.

A inflação vem sendo puxada, entre outros fatores, pelo dólar, que está em disparada por causa das confusões que Brasília não para de criar. Desconfiados com o que está por vir, sobretudo pela falta de empenho do governo para controlar a pandemia do novo coronavírus e das loucuras do Ministério da Economia e do Congresso que resultaram em um Orçamento fictício, os investidores têm buscado proteção na moeda norte-americana. Esse quadro tende a se agravar com a instalação da CPI da COVID pelo Senado, que deixará o Palácio do Planalto em uma situação muito vulnerável.

O dólar, como se sabe, está entranhado na economia brasileira. Se sobe, encarece do pãozinho francês aos combustíveis. A gasolina, por sinal, respondeu, sozinha, por 0,6 ponto percentual da inflação em março. Está em alta há 10 meses seguidos. Mas tudo fica mais caro: o arroz, o açúcar, o óleo de cozinha, as massas. Todos esses produtos estão vinculados ao mercado internacional das commodities, mercadorias que são negociadas em bolsas. Suas cotações estão subindo diante da forte demanda do mundo por alimentos. Os aluguéis, também influenciados pela moeda norte-americana, devem aumentar, em média, 30% em abril.

A situação é tão complicada que, mesmo com todas as estimativas apontando que o Brasil caminha para uma nova recessão – queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro e no segundo trimestres –, o Banco Central já aumentou a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano, e vai elevá-la pelo menos mais 0,75 ponto no início de maio. Não está descartado um aumento mais forte, como alertou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, “se alguma coisa diferente acontecer”. Quer dizer: os preços continuarem em forte escalada, como agora.

Um país com o histórico de inflação como o nosso não pode brincar com esse tema. É o pior dos impostos sobre os mais pobres, que estão penando com a perda de renda provocada pela pandemia. Nunca se viu tanta miséria espalhada pelas ruas. Ante o desastre anunciado, Brasília precisa agir rápido para reverter a tempestade perfeita que chegou com tudo. O Brasil pede socorro.



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