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Um ano depois, 250 mil mortos


02/03/2021 04:00

Rodrigo Augusto Prando
Professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em ciências sociais, mestre e doutor em sociologia pela Unesp

Em 2020, logo após o carnaval, retomei minhas aulas na universidade. Sabíamos do novo coronavírus. Em pouco tempo, colegas e alunos comentavam que as aulas em outras universidades e escolas estavam sendo suspensas. Não tardou e, também, passamos à condição de aulas on-line. Nesse momento, entendi a gravidade da situação quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que o que vivíamos era uma pandemia. Pandemia. Não a pandemia dos filmes de ficção ou das aulas de história.

Busquei, à luz da razão, estabelecer uma meta para finalizar 2020: terminar vivo, com emprego e com sanidade mental. Felizmente, consegui. Mas, há muito, para mim, vitórias pessoais são pouco importantes no bojo de uma desgraça sem precedentes em nossa sociedade. Milhões de brasileiros terminaram o ano passado sem comemorar, destroçados pela doença, morte, desemprego, doenças mentais.

Analisar a política brasileira – como tenho feito nos últimos anos – numa situação pandêmica foi um desafio e, ainda, uma profunda tristeza levando-se em conta os dados objetivos da realidade. Faz pouco mais de um ano que o primeiro caso de COVID-19 foi diagnosticado em nosso país. Neste um ano, perdemos para a doença 250 mil vidas; só em 25 de fevereiro, foram 1.582 mortes.

Politicamente, o presidente Bolsonaro manteve sua retórica e prática da confrontação, de seu “presidencialismo de confrontação”. Numa situação em que poderia exercer sua liderança, seus conhecimentos militares, e transformar o vírus num inimigo a ser vencido, com isso dando o exemplo, seguindo a ciência e ganhando capital político, nosso presidente escolheu, conscientemente, ser um aliado da doença. Deixou claro na troca dos ministros da Saúde até encontrar um general disposto a seguir suas ordens. Num misto de negacionismo, fake news, teorias da conspiração e pós-verdades, caminhamos na contramão de outros países.

Nós, brasileiros, hoje, somos motivos de escárnio, pena, assombro e vetores de risco para os estrangeiros. Somos párias internacionais. Quem poderia imaginar um governo que lutaria, com força, contra uma vacina? Países que seguiram as recomendações – distanciamento social, lockdown e vacinação em massa – já se preparam para um possível retorno à normalidade.

Nós, brasileiros, normalizamos o anormal. Seguimos com mais de 1.000 vidas perdidas por dia e naturalizamos. Assistimos socialmente, anestesiados, à morte por asfixia pela falta de oxigênio; na UTI, temos pacientes amarrados pela falta de sedativos; sistema de saúde (público e privado) colapsado em vários estados; mas há festas, baladas, praias lotadas, resistência ao uso de máscara.

A pandemia agudizou os problemas históricos e estruturais de nossa sociedade: as desigualdades de renda e de oportunidade; a educação pública e privada; a diferença na contaminação e na sobrevivência de brancos e negros; o home office, que desnuda o abismo entre os que podem se manter em casa e os que, cotidianamente, precisam enfrentar horas no transporte público precário e lotado para se deslocar de casa para o local de trabalho.

Num triste realismo político, vislumbrei, pela amostra que já tínhamos, que não poderíamos esperar muito do governo federal. Colocamos nossas esperanças nos prefeitos e governadores, mas esses, muitas vezes, estiveram desbussolados dada a gravidade e ineditismo do cenário em tela. Imaginei, num lampejo de esperança, que a união de políticos sérios e comprometidos, das lideranças empresariais, das organizações do terceiro setor e dos cidadãos pudesse trazer criatividade e possibilidades de superação de nossas mazelas. Errei. Nossa sociedade irá, provavelmente, premiar, no futuro, os negacionistas e punir os que foram sérios, conscientes e empáticos. Já perdemos.


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