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editorial

Confronto de morte

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Mortes por asfixia em pleno século 21 em Manaus, uma das maiores cidades brasileiras. Faltou, para elas, oxigênio, um dos principais insumos para manter vivas aquelas que estão sob o ataque do novo coronavírus e teriam chance de vencer a bata- lha. Mas não havia nenhuma bolsa de ar que lhes desse chance de derrotar o inimigo. O colapso ultrapassou as limitações impostas pela indisponibilidade de leitos tanto em enfermarias quanto nas unidades de terapia intensiva (UTIs). Faltou o ar indispensável à vida. Mais de 230 pacientes começaram a ser remanejados para outros estados.




 
O governo alega, em sua defesa, que tem feito o possível e o impossível para mitigar os danos da pandemia. Um argumento envolvido em controvérsias. Entre fevereiro e março do ano passado, quando a pandemia estava instalada no país, as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos especia- listas nacionais e estrangeiros foram negligenciadas. Medidas como distanciamento social, uso de máscaras e higienização constante das mãos foram desestimuladas. Os interesses econômicos falaram mais alto, em detrimento da preservação da vida.
 
Apostou-se, de forma equivocada, que a crise seria passageira e, ra- pidamente, superada. Ledo e letal engano. Investiu-se em medicamentos que foram rechaçados pela me- dicina e cientistas ante a ineficácia para conter os danos causados pelo vírus. Enquanto isso, faltou fôlego às unidades públicas e privadas de saúde. Muitos não sobreviveram na fila de espera por uma vaga em UTI. Mas, no menor declínio da crise, veio o relaxamento social e, com ele, o aumento do estímulo à retomada da falsa normalidade.
 
Em 11 meses, no Brasil, o vírus matou mais de 200 mil pessoas – o segundo maior número de vítimas do planeta, atrás só dos Estados Unidos – e infectou mais 8 milhões. Hoje, o coronavírus se dissemina em velocidade espantosa, por meio de novas variantes. Ganhou fôlego e se tornou uma ameaça não só para adultos e idosos em situação de risco. Indivíduos entre 10 e 29 anos são os alvos mais recentes.




 
A campanha nacional de vacinação, em caráter emergencial, marcada para começar na próxima quarta-feira (20/1), depende de sinal verde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que poderá ocorrer amanhã. O órgão ainda avalia os imunizantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan, devedores de informações exigidas pela agência. Mais incertezas à vista. Nesta primeira etapa, a previsão é de que, no máximo, 5 milhões de brasileiros recebam a primeira dose.
 
O episódio de Manaus foi mais um entre os muitos equívocos ocorridos em meio à pandemia, uma tragédia mundial, na qual não cabem amadorismo, imprevidência, falta de planejamento nem atitudes que subestimem seus danos. Por mais que todos estejam ansiosos pela vacinação, o seu início não mudará o novo normal, exceto quando a circulação do vírus for contida e atestada pelos especialistas. O empirismo e a negligência, até agora, têm sido aliados do vírus. Quando confrontado, ele mata.

audima